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12-05-2014 

 

A presença de militantes em sua família influenciou muito a vida de Ana Maria Martinez Xavier. Sua mãe, Iara Xavier Pereira, seus tios Iuri e Alex e sua avó Zilda foram todos militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN). Dos quatro, somente Iara e Zilda sobreviveram. Os irmãos foram mortos pela repressão, entre 1972 e 1973.

 

“Minha mãe começou a militar desde cedo, meus avós também eram militantes, meus tios participaram desde cedo da luta pela melhora do país. Devido à repressão eles tiveram que se separar muito cedo. Minha mãe ainda criança teve que morar na casa de amigos porque a ditadura estava procurando meus avós”.

Iara Xavier e seus filhos, Arnaldo e Ana 

Logo após o golpe em 1964, a família é obrigada a se separar por conta da repressão política e do medo de serem vítimas de agentes do Estado. Iuri e Alex vão para a casa de militantes do PCB, enquanto Iara conta com a ajuda da família de uma amiga de colégio que quando sabe de toda a situação oferece ajuda abrigando Iara por cerca de um ano.  
Ana Xavier não era viva quando do auge da repressão política, mas se lembra da luta da sua mãe pelo direito a memória, verdade e justiça de Arnaldo Cardoso Rocha, companheiro de

 

Iara, e de seus irmãos, mortos pela repressão. Logo que voltou do exílio ela começa a procurar pelos restos mortais de seus irmãos localizando-os em 1979, no Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, na periferia da capital paulista, obtendo em seguida seu traslado para o Rio de Janeiro.

 

Em 1997 consegue a exumação e a análise pericial dos restos mortais de Iuri, com o apoio da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). O médico legista Nelson Massini, que reexaminou a ossada e as fotos do cadáver feitas em 1972, constatou que o militante da ALN fora atingido por pelo menos seis projéteis de armas de fogo e não três, como indicou o laudo inicial, assinado por Isaac Abramovitc.

 

O novo exame também mostrou que Iuri foi espancado ainda com vida e que os dois tiros que atingiram seu crânio foram dados de cima para baixo. A indicação é de que já estaria no chão, dominado, quando teriam decidido executá-lo. O perito Luís Fondebrider, do Grupo Argentino de Antropologia Forense, também examinou o material na ocasião e fez constatações semelhantes.

 

O caso de Arnaldo, que foi marido de Iara, foi revelado no ano passado. Seus restos mortais foram analisados pela CEMDP em parceria com o Instituto de Criminalística da Polícia Federal. O novo laudo indica que estava imobilizado, foi torturado e estava sem condições de oferecer resistência quando foi executado.

 

Batalhadora, Iara não descansou até concluir a última identificação, de Alex Xavier Pereira em março desse ano. Durante a solenidade de entrega do documento na CEMDP, Iara disse que esse momento “representa para a família a conclusão de um luto, de uma busca, ter a certeza que realmente conseguimos resgatar e dar uma sepultura digna para ao nosso irmão. Uma sensação de conforto que muitas famílias ainda não têm”.

Após os assassinatos dos irmãos, Iara sai do Brasil grávida de seu primeiro filho, Arnaldo Xavier Cardoso Rocha. Ela vai para Cuba. “Lá que ela conheceu depois do nascimento do meu irmão o meu pai que é chileno e eu nasci em Cuba em 1977”, relembra Ana.
Quando retorna ao país Iara não estava preocupada somente na identificação de seus parentes e sempre ofereceu ajuda aos demais familiares participando da articulação do movimento de familiares de mortos e desparecidos políticos. “Lembro-me de inúmeras reuniões em casa com todos aqueles documentos na mesa”, diz Ana.

“Eu acho que essa luta é um exemplo para mim. Tudo que ela perdeu e tudo que ela sempre buscou para o país. Apesar de eu não ser muito engajada politicamente eu tento ser uma pessoa melhor por conta do exemplo que ela sempre deu como mãe e como pessoa. A força dela é impressionante e eu tento levar isso para mim. Apesar da vida da gente continuar e querer ser sempre melhor e querer melhorar sempre”, diz Ana.

Iara e Ana 

Sobre a Comissão de Mortos e Desparecidos Políticos
 
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos foi criada pela Lei 9.140/1995, com os objetivos de promover a busca de informações e a construção de instrumentos que permitam a elucidação de violações contra os direitos humanos ocorrida durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), proceder ao reconhecimento e reparação de pessoas mortas ou desaparecidas e promover a localização, a identificação e a devolução dos seus restos mortais aos familiares.
  

 

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