esqueceu sua senha?

ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: ALEXANDRE VANNUCCHI LEME
 
ALEXANDRE VANNUCCHI LEME

Nome: ALEXANDRE VANNUCCHI LEME

Pai: José de Oliveira Leme

Mãe: Egle Maria Vannucchi Leme

Idade quando desaparecido:

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
020/98
Nome
ALEXANDRE VANNUCCHI LEME
Data de Nascimento
05/10/1950
Municipio de Nascimento
Sorocaba (SP)
Status
Morto
Biografia

 

A versão para a morte do estudante de geologia da USP Alexandre Vannucchi Leme, em 17/03/1973, – preso pelo DOI-CODI/SP dentro da Cidade Universitária – anunciada pelas autoridades do regime militar como “atropelamento” não convenceu ninguém. Assembléia realizada pelos seus colegas, em 23/03/1973, no Instituto de Geologia aprovou a realização de uma missa de 7º dia, a formação de uma comissão jurídica com a finalidade de apurar as circunstâncias da morte, decretar luto e propor às outras unidades da USP uma parada simbólica de protesto. A missa foi celebrada no dia 30 de março, na catedral da Sé, pelo bispo de Sorocaba, Dom Melhado, e pelo cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, reunindo cinco mil pessoas que desafiaram o ambiente reinante de terror e repressão e expressaram um grande sentimento de indignação perante as sistemáticas violações dos Direitos Humanos que pautavam o regime militar, com ênfase naquele período do governo Médici.

 

O fraudulento comunicado oficial dos órgãos de segurança sobre a morte de Alexandre o acusava de participação em ações armadas realizadas recentemente pela ALN, sendo que no dia e horário de uma delas o estudante se encontrava ainda anestesiado, no pós-operatório de uma cirurgia de apendicite, conforme a família pode comprovar com documentação irrefutável.

 

O universitário Alexandre Vannucchi Leme, conhecido como Minhoca, foi enterrado sem caixão em uma cova rasa do cemitério de Perus, forrada com cal para acelerar o processo de decomposição e encobrir as marcas da tortura que motivaram sua morte. As versões contraditórias de suicídio com lâmina de barbear, apresentada pelos agentes do DOI-CODI aos outros presos políticos, e a de atropelamento durante fuga, divulgada publicamente, foram desmascaradas. Um grupo de nove presos políticos testemunhou na própria Justiça Militar as torturas a que foi submetido o estudante, nos dias 16 e 17/03/1973, por uma turma de pelo menos 13 agentes daquele órgão. Em 1978, o ministro do STM general Rodrigo Octávio Jordão Ramos pediu apuração do fato. Em documento anexado a uma apelação dirigida ao tribunal, admitiu: “(...) Fui vencido no tocante à apuração de denúncias sobre torturas e sevícias que teriam sofrido alguns réus, e culminando com a morte do cidadão Alexandre Vannucchi Leme (...)”

 

Filho de professores e nascido numa família católica onde sua mãe tinha um irmão padre e três irmãs religiosas, primeiro da classe em toda a sua vida escolar em Sorocaba e Itu, Minhoca tinha 22 anos, cursava o 4º ano da faculdade, participava ativamente das mobilizações estudantis e militava na ALN quando foi preso pelo DOI-CODI no dia 16/03/1973, por volta das 11h. Na tarde seguinte estava morto. A morte foi conseqüência direta da tortura, iniciada imediatamente após a prisão. Os encarregados pertenciam à Equipe C: escrivão de polícia Gaeta, tenente da PM Mário, investigador de polícia conhecido como Oberdan e carcereiro chamado Marechal, todos chefiados pelo delegado de polícia que se identificava como Dr. Jorge. No dia 17, os torturadores foram substituídos pelos integrantes da Equipe A, integrada pelo Dr. José e pelo investigador Dr. Tomé, além de Caio ou Alemão, Dr. Jacó, Silva e Rubens. Era comandante do DOI-CODI/SP o major Carlos Alberto Brilhante Ustra.

 

Conforme os depoimentos dos presos políticos, por volta do meio-dia do dia 17, Alexandre foi jogado na cela-forte. Às 17h, o carcereiro conhecido como Peninha, designado para conduzi-lo a outra sessão, berrou seu nome em vão. Intrigado, entrou na cela e saiu de lá aos gritos: “O homem morreu”. Os torturadores de plantão correram todos para a cela e, ao constatarem que Alexandre realmente estava morto, arrastaram-no pelos pés. O corpo deixou um rastro de sangue, que vertia com abundância da região do abdome.

 

Todas as pessoas presas naquela unidade presenciaram o fato e foram taxativas nos seus depoimentos, prestados no mês de julho de 1973, perante a Justiça Militar Federal. Testemunharam: Luís Vergatti, César Roman dos Anjos Carneiro, Leopoldina Brás Duarte, Carlos Vítor Alves Delamônica, Walkíria Queiroz Costa, Roberto Ribeiro Martins, José Augusto Pereira, Luís Basílio Rossi e Neide Richopo, todos respondendo a processo por serem militantes do PCdoB.

 

Sobre a versão do atropelamento de Vannucchi por um caminhão Mercedes-Benz, apresentada pelos militares, o ministro Rodrigo Octavio apontou contradições entre o relato do motorista João Cocov – a vítima estaria sendo perseguida por uma “turba” aos gritos de “pega ladrão” e teria se jogado contra o pára-choque – e a da única testemunha, o balconista Alcino Nogueira de Souza, cujo depoimento afirma que o rapaz estava tomando cerveja e, de repente, começou a correr. Escreveu esse general do Exército Brasileiro: “(...) Talvez seja este o acidente mais assistido e menos testemunhado da história (...)”, referindo-se ao fato de que a avenida Celso Garcia, onde teria ocorrido o “acidente” é uma das mais movimentadas artérias da capital paulista.

 

Segundo o livro Gritos de Justiça, do advogado Mário Simas, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, os pais de Alexandre receberam, em 20/03/1973, um telefonema anônimo informando que ele se encontrava preso no DOPS/SP. Lá e em outros órgãos de segurança onde o procuraram, sempre ouviram negativas. Dias depois, quando sua morte já havia sido publicada pela imprensa, foram informados no IML/SP que Alexandre já havia sido enterrado como indigente no Cemitério de Perus. Apesar de haverem constituído advogado imediatamente após a notícia de sua prisão, somente 10 anos depois puderam resgatar seus restos mortais. Foi instaurado um inquérito pelo DEOPS para apurar a morte de Alexandre e encaminhado para a 2ª Auditoria Militar, onde o Juiz Auditor Nelson da Silva Machado Guimarães encaminhou para o comandante do II Exército, sendo arquivado sem solução.

 

A necropsia, realizada no IML/SP, em 22/03/1973, por Isaac Abramovitc e Orlando Brandão, confirma a falsa versão de que teria se atirado sob um veículo, sofrendo contusão na cabeça. A certidão de óbito atesta sua morte em 17/03/1973, após atropelamento na Rua Bresser, quando era levado ao Hospital das Clínicas.

 

Na verdade, a morte de Alexandre Vannucchi Leme ocorreu em conseqüência de “lesões traumáticas crâneo encefálicas”, mas não produzidas por um veículo automotivo e sim por mãos humanas, como afirmaram, sem contradições, as nove pessoas presas na mesma ocasião, determinando o deferimento do processo na CEMDP. O caso foi um dos escolhidos para a primeira reunião de julgamentos da Comissão Especial, quando foi aprovado por unanimidade.

 

Em 1983, os restos mortais de Alexandre foram trasladados para Sorocaba, sua terra natal, depois de cerimônia religiosa realizada na igreja os Dominicanos, em Perdizes, ao lado dos restos mortais de Frei Tito Alencar Lima, trazidos no mesmo dia da França, onde esse frade se enforcou como conseqüência das brutais torturas a que foi submetido em 1969 pelo torturador Sergio Paranhos Fleury.

 

Cinco anos depois de sua morte, quando o Movimento Estudantil mais uma vez renasceu das cinzas e ensejou, novamente, grandes assembléias, passeatas e concentrações de rua, os estudantes da USP decidiram homenagear, em seu nome, todos os estudantes mortos na luta contra a ditadura, passando a denominar sua entidade de representação como Diretório Central dos Estudantes Alexandre Vannucchi Leme.

 

Alexandre Vannucchi Leme também é o nome de uma praça em Sorocaba, próxima à casa em que residiu com seus pais antes de se mudar para São Paulo, de uma escola estadual em Ibiúna (SP), e de uma escola municipal de educação infantil na cidade de São Paulo.

Local de morte/desaparecimento
...
Organização política ou atividade
...
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
...
voltar
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Setor Comercial Sul - B, Quadra 9, Lote C, Edificio Parque Cidade Corporate, Torre "A", 10º andar, Brasília, Distrito Federal, Brasil CEP: 70308-200c

Atualize o Flash Player