Nome: Wilson Silva
Pai: João Silva
Mãe: Lygia Villaça da Silva
Idade quando desaparecido: 32 anos
Ana Rosa Kucinski Silva era professora universitária, formada em química, com doutorado em filosofia. Casada com o físico Wilson Silva, trabalhava no Instituto de Química da USP. Wilson era formado pela Faculdade de Física da USP, tinha especialização em processamento de dados e trabalhava na empresa Servix. Os dois conciliavam seu trabalho e estudos com a militância política na ALN. Ambos os nomes estão incluídos na lista de desaparecidos políticos anexa à Lei no 9.140/95.
Wilson era conhecido na ALN pelo codinome Rodrigues, sendo um dos poucos membros dessa organização clandestina que tinha consegui- do manter sua militância por mais de cinco anos, sem ser preso ou sair do país. Em 1961, aos 19 anos, saiu de Taubaté (SP) para estudar em São Paulo, já trazendo consigo o interesse pela política, que nasceu em seus tempos de Escola Estadual Monteiro Lobato. Foi militante da Polop entre 1967 e 1969, ligou-se à ALN a partir desse ano e sempre priorizou a atuação junto ao setor operário.
Ana Rosa estudou Química, na USP, durante a efervescência estudantil que marcou o início da resistência ao regime militar nessa área, avançando seu engajamento político a partir do namoro e casamento com Wilson, que em 1966 tinha organizado com Bernardo Kucinski, seu colega na Física da USP e irmão de Ana Rosa, uma exposição sobre os 30 anos da Guerra Civil Espanhola, na rua Maria Antonia.
No dia 22/04/1974, Ana Rosa saiu do trabalho na Cidade Universitária e foi ao centro da cidade para almoçar com Wilson, num dos res taurantes próximos à Praça da República. Ele saíra do escritório da empresa, na avenida Paulista, junto com seu colega de trabalho Osmar Miranda Dias, para fazer um serviço de rotina também no centro. Terminado o serviço, Wilson separou-se de seu colega e avisou que almo çaria com sua esposa e depois voltaria para o escritório. O casal desapareceu nas proximidades da Praça da República.
Os colegas de Ana Rosa na USP estranharam sua ausência e avisaram a família Kucinski, que imediatamente começou a tomar providências para sua localização. Ao procurarem Wilson, souberam que ele também havia desaparecido. As duas famílias passaram a viver o tormento da busca por informações. O habeas-corpus impetrado pelo advogado Aldo Lins e Silva foi negado, pois nenhuma unidade militar ou policial reconhecia a prisão do casal. A família foi a todos os locais de prisão política em busca de notícias e informações. A Comissão de Direitos Humanos da OEA foi acionada, como recurso extremo, no dia 10/12/1974, data em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas, completava 26 anos. O pedido de investigação daquela instância interamericana foi respondido, meses depois, pelo governo brasileiro, afirmando não ter responsabilidade alguma sobre o destino do casal e que não tinha informações sobre o caso.
Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa descrevem, em Desaparecidos Políticos, a busca junto ao governo dos Estados Unidos: “O Departamento de Estado norte-americano, solicitado a dar uma informação, comunicou à American Jewish Communitee, entidade dedicada, entre outras coisas, a procurar pessoas desaparecidas na guerra, famílias separadas, e também à American Jewish Congress, espécie de federação das organizações judaicas religiosas culturais, que Ana Rosa estava viva, mas não sabia onde. A última informação do Departamento de Estado foi transmitida à família Kucinski em 7 de novembro de 1974”.
Esse mesmo livro traz um depoimento de Bernardo Kucinski, que se formou em Física mas optou pelo jornalismo, tendo trabalhado na BBC de Londres e colaborado nos semanários Opinião e Movimento, antes de publicar vários livros e se tornar professor de jornalismo na USP: “Certeza da morte já é um sofrimento suficiente, por assim dizer. Um sofrimento brutal. Agora, a incerteza de uma morte, que no fundo é certeza, mas formal mente não é, é muito pior. Passam-se anos até que as pessoas comecem a pensar que houve morte mesmo. E os pais principalmente, já mais idosos, nunca conseguem enfrentar essa situação com realismo”. Bernardo Kucinski também contou, numa entrevista para a revista Veja, que a família foi extorquida em 25 mil dólares em troca de informações, que ao final se mostraram inteiramente falsas.
O cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, conseguiu, conforme já registrado, uma audiência em Brasília com o general Golbery do Couto e Silva e obteve como resposta promessas de investigação. Pouco tempo depois, o ministro de Justiça, Armando Falcão publicou a insólita nota oficial informando sobre o destino dos desaparecidos políticos, onde Ana Rosa e Wilson Silva foram citados como ‘terroristas foragidos’.
Anos depois, o tenente-médico Amílcar Lobo, que serviu no DOI-CODI/RJ e na “Casa da Morte”, em Petrópolis (RJ), concedeu entrevista denunciando os assassinatos políticos que presenciara naquelas unidades militares. Procurado por Bernardo Kucinski, o médico reconheceu Wilson Silva como sendo uma das vítimas de torturas atendidas por ele. Ao ver a foto de Ana Rosa, o militar a identificou como uma das presas, mas sem demonstrar convicção ou certeza. Também o ex-agente do DOI-CODI/SP, em entrevista à Veja de 18/11/1992, informou: “Foi o caso também de Ana Rosa Kucinski e seu marido, Wilson Silva. Foram delatados por um cachorro, presos em São Paulo e levados para a casa de Petrópolis. Acredito que seus corpos também foram despedaçados”.
O Relatório do Ministério da Marinha, enviado ao Ministro da Justiça, Maurício Correa, em 1993, confirmou que Wilson Silva “foi preso em São Paulo a 22/04/1974, e dado como desaparecido desde então”. Na ficha de Wilson Silva, no arquivo do DEOPS, consta que ele foi “preso em 22/04/1974, junto com sua esposa Rosa Kucinski”.
Procedimento administrativo de busca, localização e identificação dos restos mortais
Processo: 00005.215991/2015-78
Os familiares poderão solicitar acesso aos detalhes do procedimento através do e-mail desaparecidospoliticos@sdh.gov.br ou pelo telefone (61) 2027 3484.
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