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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: RUY CARLOS VIEIRA BERBERT
 
RUY CARLOS VIEIRA BERBERT

Nome: RUY CARLOS VIEIRA BERBERT

Pai: Ruy Thales Jaccoud Berbert

Mãe: Ottilia Vieira Berbert

Idade quando desaparecido: 25 anos

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
016/96
Nome
RUY CARLOS VIEIRA BERBERT
Data de Nascimento
16/12/1947
Municipio de Nascimento
Regente Feijó (SP)
Status
Desaparecido
Biografia
 
O nome de Ruy integra a lista de desaparecidos políticos anexa à Lei nº 9.140/95 . Ele passou a infância e adolescência na terra natal, Regente Feijó, no interior paulista, onde concluiu o curso Científico. Mudou-se para São Paulo com o objetivo de se preparar para o vestibular, sendo aprovado tanto na USP quanto na PUC. Optou pelo ingresso no curso de Letras da USP. Passou a residir no CRUSP, o conjunto residencial da Universidade. Após um ano, trancou matrícula e começou a dar aulas em cursinhos particulares. Foi nessa época que iniciou seu envolvimento nas atividades políticas estudantis. Em outubro de 1968, foi preso no 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP). Após a prisão, retornou à terra natal, onde ficou por uns 15 dias.

Foi essa a última vez que os pais e a irmã o viram. Segundo informações dos órgãos de segurança, divulgadas em  otas oficiais de imprensa, Ruy Berbert seria um dos nove militantes da ALN que seqüestraram um avião da Varig, no trajeto Buenos Aires-Santiago, desviando-o para Cuba, em 4 de novembro de 1969, exatamente o mesmo dia em que foi morto Carlos Marighella. Além de Ruy foram identificados como participantes desse seqüestro Lauriberto José Reyes, Maria Augusta Thomaz e Aylton Adalberto Mortatti, os três itambém mortos como militantes do MOLIPO. Em dezembro de 1969, a família recebeu de Ruy uma carta que teria sido enviada da Europa. Meses depois, recebeu um bilhetinho escrito às pressas, dizendo apenas que estava bem e pedindo que pensassem sempre nele com carinho.

Ruy retornou ao Brasil em meados de 1971, como militante do MOLIPO, depois de receber treinamento militar em Cuba. Durante muitos anos, a única informação que constava do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos a respeito dele era de que havia desaparecido no Brasil, no ano de 1972. Documentos produzidos pelos órgãos de segurança fazem ligação entre Ruy e outros militantes do MOLIPO que teriam se implantado no norte de Goiás em 1971, como Arno Preis, Jeová Assis Gomes e outros, depois de tentarem se fixar na Bahia, nas proximidades do rio São Francisco. Ruy Berbert e Boanerges de Souza Massa, de acordo com essas fontes, teriam passado algum tempo na região de Balsas, no Maranhão, antes de se deslocarem para o norte goiano.

Em 27/07/1972, Ruy Berbert foi condenado à revelia a 21 anos de reclusão pela 2ª Auditoria da Justiça Militar Federal, em São Paulo, embora já estivesse morto. A data e local de sua morte somente foram descobertos após a abertura dos arquivos do DOPS/SP. Em meados de junho de 1991, a Comissão de Familiares recebeu um atestado de óbito em nome de João Silvino Lopes, que teria cometido suicídio em 02/01/1972, em Natividade, na época Estado de Goiás, hoje Tocantins. A única informação que acompanhava a certidão de óbito, entregue pela Comissão Pastoral da Terra, é de que pertenceria a algum militante político.

Em janeiro de 1992, ao examinar os arquivos do DOPS/SP, foi possível relacionar o nome de Ruy Carlos com João Silvino Lopes, ao ser encontrada uma relação intitulada: Retorno de Exilados, endereçada ao então delegado Romeu Tuma. Dentre os nomes relacionados, estava o de Ruy Carlos Vieira Berbert com as seguintes observações: “suicidou-se na Delegacia de Polícia de Natividade/GO – JAN 72 – INFO 20/72 do DOPF/GO”. Também no exame dos arquivos secretos do DOPS do Paraná uma ficha com seu nome foi encontrada na gaveta que continha dados sobre 17 “falecidos”.

A Comissão de Familiares solicitou ajuda à recém-criada Comissão de Representação da Câmara dos Deputados, que acompanhava a questão dos desaparecidos, para realizar investigações em Natividade. Foi organizada uma caravana integrada pelo presidente da referida Comissão, deputado Nilmário Miranda, pelo deputado Roberto Valadão, pelo advogado Idibal Piveta, representando a família de Ruy Carlos e a OAB/SP, por Hamilton Pereira, da Comissão Pastoral da Terra e por Suzana Keniger Lisbôa, da Comissão de Familiares. Os integrantes da caravana tomaram depoimentos de populares que presenciaram os fatos na época, reconhecendo a foto de Ruy Carlos como sendo João Silvino Lopes.

A delegacia, onde Ruy teria supostamente se enforcado, fica bem no centro da pequena cidade, sendo um prédio antigo, com o pé direito muito alto. A cela onde Ruy esteve recolhido tinha janela para a praça da cidade e, através dela, conversou com alguns moradores puderam conversar com eles. Um deles teria lhe entregue uma rede com a qual, conforme a versão oficial, Ruy teria se enforcado. No imaginário dos moradores locais ficou a idéia de que Ruy usava um tênis especial, que lhe permitia andar sobre as águas. Com ele, pudera subir pelas paredes até o teto, cujo acesso parece impossível. No dia 30/06/1992, a juíza de Direito da Comarca de Natividade, Sarita Von Roeder Michels, concluiu os termos de retificação da Certidão de Óbito, requerida por Ruy Jaccoud Berbert, pai de Ruy Carlos. Apesar de ter sido enterrado no mesmo dia que um conhecido morador, sendo seu enterro acompanhado por dezenas de populares, não foi possível localizar a sepultura na tentativa realizada pela equipe do Departamento de Medicina Legal da Unicamp.

Na página 607 do “livro secreto do Exército”, divulgado em abril de 2007 pelo jornalista Lucas Figueiredo, consta a seguinte passagem, que pode corresponder à verdade ou ser meramente uma contra-informação, por se tratar de texto produzido pelos próprios agentes dos órgãos de segurança: “Boanerges (de Souza Massa) entregou o ‘ponto’ que teria com Rui Carlos Vieira Berbert, provocando sua prisão, dia 31 de dezembro, em Natividade (GO). Rui foi preso com documentação falsa em nome de ‘João Silvino Lopes’. Debilitado pela malária, imaginou poder contornar a situação com sua documentação falsa, pois não sabia ainda da prisão de Boanerges. Ao sabê-la, de forma inadvertida, através de seus captores, aproveitou-se de um descuido na vigilância e suicidou-se”.

No dia 19/05/1993, em Jales (SP), por convite da família e do Grêmio Estudantil Ruy Carlos Vieira Berbert, uma urna funerária vazia foi depositada no jazigo da família Berbert, concretizando simbolicamente o enterro do militante, após homenagem na Câmara Municipal. Em Presidente Prudente, uma escola pública foi batizada com o seu nome.
Local de morte/desaparecimento
Natividade (TO)
Organização política ou atividade
MOLIPO
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Data da publicação no DOU
04/12/1995
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