Nome: RANÚSIA ALVES RODRIGUES
Pai: Moisés Rodrigues Vilela
Mãe: Áurea Alves Siqueira
Idade quando desaparecido: 28 anos
Almir Custódio de Lima, Ramires Maranhão do Valle, Ranúsia Alves Rodrigues e Vitorino Alves Moitinho, militantes do PCBR, foram mortos pelos órgãos de segurança do regime militar em 27/10/1973, no Rio de Janeiro, e a cena para legalização das execuções foi montada na Praça Sentinela, em Jacarepaguá. Ramires, Almir e Vitorino aparecem totalmente carbo nizados dentro de um Volkswagen, enquanto o corpo de Ranúsia jaz baleado, embora não queimado. Foram esses os últimos membros do PCBR a serem mortos no longo ciclo do regime militar, encerrando a série iniciada com o assassinato sob torturas de Mário Alves, principal dirigente e fundador do partido, em janeiro de 1970, no DOI-CODI/RJ. Em outubro de 1973, quando dessas últimas quatro mortes, o PCBR já estava reduzido a um pequeno círculo de militantes.
Os documentos oficiais dos arquivos dos Ministérios do Exército, Marinha e Aeronáutica mostram versões desencontradas sobre a morte dos quatro militantes. Alguns fatos só começaram a ser esclarecidos com a abertura dos arquivos secretos do DOPS, no Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco.
No dia 29/10/1973, a imprensa carioca apenas noticiou a morte de dois casais em Jacarepaguá. O Jornal do Brasil estampou “Polícia especu la, mas nada sabe ainda sobre os casais executados em Jacarepaguá”, enquanto O Globo noticiou: “Metralhados dois casais em Jacarepaguá”. Nenhum dos jornais citou nomes dos mortos. O mesmo ocorreu na matéria da revista Veja, de 07/11/1973, “Quem Matou Quem?”. Somente em 17/11/1973, tanto em O Globo, quanto no Jornal do Brasil, respectivamente, sob os títulos “Terroristas Morrem em Tiroteio com as Forças de Segurança” e “Terroristas São Mortos em Tiroteio”, se lê: “em encontro com forças de segurança, vieram a falecer, após travarem cerrado tiroteio, quatro terroristas, dois dos quais identificados como Ranúsia Alves Rodrigues, ‘Florinda’, e Almir Custódio de Lima, ‘Otávio’, perten- centes à organização clandestina subversiva intitulada PCBR”.
Os nomes de Vitorino e Ramirez não foram citados nas matérias e, como conseqüência, esses dois militantes passaram a figurar nas relações de desaparecidos políticos, integrando a lista anexa à Lei no 9.140/95.
No livro Dos Filhos Deste Solo, Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio assim registraram o episódio:
“Chovia na noite de 27 de outubro de 1973, um sábado. Alguns poucos casais escondiam-se da chuva junto do muro do Colégio de Jacarepaguá, no Rio. Por volta das 22h um homem desceu de um Opala e avisou: ‘Afastem-se porque a barra vai pesar’. O repórter de Veja (7/11/73) localizou alguém que testemunhou o significado desse aviso: ‘Não ouvimos um gemido, só os tiros, o estrondo e a correria dos carros’. (...) Vindos de todas as ruas que levam à Praça, oito ou nove carros foram chegando, cercando um fusca vermelho (AA 6960) e despejando tiros. Depois jogaram uma bomba dentro do carro. No final, havia uma mulher morta com quatro tiros no rosto e peito e três homens carbonizados”.
Essa mulher era Ranúsia Alves Rodrigues, pernambucana de Garanhuns e estudante de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambu- co. Já tinha sido presa uma vez, em Ibiúna (SP), em 1968, quando participava do 30o Congresso da UNE, sendo expulsa da universidade pelo Decreto 477 no ano seguinte. Vivendo na clandestinidade como militante do PCBR teve uma filha, Vanúsia. Atuava no Rio de Janeiro desde outubro de 1972. Documentos dos órgãos de segurança do regime militar sustentavam que ela teria participado, como cobertura médica, da execução do delegado Octávio Gonçalves Moreira Jr, do DOI-CODI/SP, em Copacabana, no dia 25/02/1973. Sua foto e seu nome tinham sido divulgados, erroneamente, como uma das pessoas mortas na chamada Chacina de Quintino, em 29/03/1972, no lugar de Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo.
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