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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: RAMIRES MARANHÃO DO VALLE
 
RAMIRES MARANHÃO DO VALLE

Nome: RAMIRES MARANHÃO DO VALLE

Pai: Francisco Clóvis Marques do Valle

Mãe: Agrícola Maranhão do Valle

Idade quando desaparecido: 23 anos

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
096/96
Nome
RAMIRES MARANHÃO DO VALLE
Data de Nascimento
21/11/1950
Municipio de Nascimento
Recife (PE)
Status
Desaparecido
Biografia

 

Almir Custódio de Lima, Ramires Maranhão do Valle, Ranúsia Alves Rodrigues e Vitorino Alves Moitinho, militantes do PCBR, foram mortos pelos órgãos de segurança do regime militar em 27/10/1973, no Rio de Janeiro, e a cena para legalização das execuções foi montada na Praça Sentinela, em Jacarepaguá. Ramires, Almir e Vitorino aparecem totalmente carbo nizados dentro de um Volkswagen, enquanto o corpo de Ranúsia jaz baleado, embora não queimado. Foram esses os últimos membros do PCBR a serem mortos no longo ciclo do regime militar, encerrando a série iniciada com o assassinato sob torturas de Mário Alves, principal dirigente e fundador do partido, em janeiro de 1970, no DOI-CODI/RJ. Em outubro de 1973, quando dessas últimas quatro mortes, o PCBR já estava reduzido a um pequeno círculo de militantes.

 

Os documentos oficiais dos arquivos dos Ministérios do Exército, Marinha e Aeronáutica mostram versões desencontradas sobre a morte dos quatro militantes. Alguns fatos só começaram a ser esclarecidos com a abertura dos arquivos secretos do DOPS, no Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco.

 

No dia 29/10/1973, a imprensa carioca apenas noticiou a morte de dois casais em Jacarepaguá. O Jornal do Brasil estampou “Polícia especu la, mas nada sabe ainda sobre os casais executados em Jacarepaguá”, enquanto O Globo noticiou: “Metralhados dois casais em Jacarepaguá”. Nenhum dos jornais citou nomes dos mortos. O mesmo ocorreu na matéria da revista Veja, de 07/11/1973, “Quem Matou Quem?”. Somente em 17/11/1973, tanto em O Globo, quanto no Jornal do Brasil, respectivamente, sob os títulos “Terroristas Morrem em Tiroteio com as Forças de Segurança” e “Terroristas São Mortos em Tiroteio”, se lê: “em encontro com forças de segurança, vieram a falecer, após travarem cerrado tiroteio, quatro terroristas, dois dos quais identificados como Ranúsia Alves Rodrigues, ‘Florinda’, e Almir Custódio de Lima, ‘Otávio’, perten- centes à organização clandestina subversiva intitulada PCBR”.

 

Os nomes de Vitorino e Ramirez não foram citados nas matérias e, como conseqüência, esses dois militantes passaram a figurar nas relações de desaparecidos políticos, integrando a lista anexa à Lei no 9.140/95.

 

No livro Dos Filhos Deste Solo, Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio assim registraram o episódio:

 

“Chovia na noite de 27 de outubro de 1973, um sábado. Alguns poucos casais escondiam-se da chuva junto do muro do Colégio de Jacarepaguá, no Rio. Por volta das 22h um homem desceu de um Opala e avisou: ‘Afastem-se porque a barra vai pesar’. O repórter de Veja (7/11/73) localizou alguém que testemunhou o significado desse aviso: ‘Não ouvimos um gemido, só os tiros, o estrondo e a correria dos carros’. (...) Vindos de todas as ruas que levam à Praça, oito ou nove carros foram chegando, cercando um fusca vermelho (AA 6960) e despejando tiros. Depois jogaram uma bomba dentro do carro. No final, havia uma mulher morta com quatro tiros no rosto e peito e três homens carbonizados”.

 

Ramires Maranhão do Valle nasceu em Recife e, no final de 1961, passou no exame para cursar o Colégio Militar, embora não tenha conseguido vaga. Matriculou-se então no colégio São João, estudando até a 3a série ginasial e destacando-se também em atletismo. Devido à composição social elitista dessa escola, enfrentou conflitos com colegas que se opunham ao governo estadual de Miguel Arraes. Depois de abril de 1964, preferiu transferir-se para o colégio Carneiro Leão, onde concluiu a 4a série. Interessado em agricultura, foi cursar o colegial na Paraíba, na escola agrícola Vidal Negreiros, em Bananeiras. Permaneceu apenas um ano nesse estabelecimento e retornou a Recife, matriculando-se no colégio salesiano Sagrado Coração. Não chegou a concluir o curso secundário devido às perseguições policiais por sua atuação política no meio estudantil. Na primeira vez em que foi preso, aos 16 anos, estava participando de manifestação do Movimento Estudantil contra o acordo MEC-USAID, nas escadarias da Assembléia Legislativa de Pernambuco. Junto com ele foi preso Fernando Santa Cruz, que também seria assassinado pelos órgãos de segurança em 1974. Nessa ocasião, Ramires permaneceu oito dias no Juizado de Menores.

 

No enterro do Padre Antônio Henrique Pereira Neto, assassinado em Recife em 21/08/1969, Ramires, rompendo a vigilância policial, promoveu um comício relâmpago em uma das pilastras da Ponte da Torre, por onde passava o cortejo. Em decorrência da perseguição policial que se seguiu, teve de passar à vida clandestina, vinculando-se ao PCBR. Atuou clandestinamente em Fortaleza (CE) e radicou-se no Rio de Janeiro em 1971. Em todo esse período, manteve contato com parentes através de cartas, telefonemas ou mesmo visitas, embora raras. O último encontro aconteceu em fevereiro de 1972. Documentos dos órgãos de segurança do regime militar atribuem a ele participação em várias ações armadas, inclusive em duas execuções: a do delegado Octavinho, mencionada há pouco e a do ex-preso político do PCBR Salatiel Teixeira Rolins, acusado por seus companheiros de ser responsável pela prisão de Mário Alves.

 

Seu desaparecimento foi denunciado pela família à ONU, ao Conselho de Justiça, Segurança Pública e Direitos Humanos do governo do Estado do Rio de Janeiro e ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. No Relatório do Ministério do Exército, de 1993, consta que foi morto junto com dois companheiros em tiroteio com as forças de segurança.

Local de morte/desaparecimento
Rio de Janeiro (RJ)
Organização política ou atividade
PCBR
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Data da publicação no DOU
04/12/1995
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