Biografia
Conhecido como Raimundinho, nasceu em Curvelo, Minas Gerais, iniciando sua militância política na juventude como integrante da AP, em Pernambuco. Trabalhou como bancário. Morreu quando tinha 32 anos e vivia em Jaboatão dos Guararapes (PE). Era casado com Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo, morta em 1972, com quem tinha duas filhas. Foi baleado em uma casa do bairro de Sucupira, em Recife (PE), por agentes do DOPS pernambucano, em 27/04/1971, morrendo no dia seguinte. Na casa estavam Áurea Bezerra e seus filhos, além do militante Arlindo Felipe da Silva, que foi preso e, posteriormente, enviou depoimento por escrito à CEMDP, fundamental para a decisão unânime a favor do deferimento.
Dirigente da VAR-Palmares, com passagem anterior pela Ala Vermelha, o nome de Raimundo constava do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos dos Políticos, sem maiores informações acerca das circunstâncias de sua morte. A nota oficial comunicando o ocorrido foi publicada pelo Jornal do Brasil somente em 1º de julho, mais de dois meses depois. A Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, ao informar a morte, acusa Raimundo como autor do atentado no Aeroporto de Guararapes, quando morreram o jornalista e secretário de Governo Edson Régis de Carvalho e o Almirante da Reserva Nélson Gomes Fernandes, ficando feridas e mutiladas outras pessoas.
O exame necroscópico foi feito sob a identidade falsa de José Francisco Severo Ferreira, pelos legistas Nivaldo José Ribeiro e Antônio Victoriano da Costa. Atestam como causa mortis “hemorragia interna, decorrente de ferimento transfixante de tórax, por projétil de arma de fogo”. Descrevem, além do ferimento na região dorsal responsável pela hemorragia, ferimentos à bala no rosto, um no antebraço, um no punho e um na perna, informando a data de sua morte como sendo 28/04/1971.
No documento remetido à Comissão Especial, Arlindo Felipe da Silva, irmão do desaparecido político Mariano Joaquim da Silva, detalha o ocorrido.
A energia elétrica foi interrompida ou cortada deliberadamente e os policiais chegaram disparando contra a residência no bairro Sucupira. Um tiro atingiu o braço de um dos filhos de Áurea, que tentou fugir com a criança, em pânico, enquanto Raimundo, aos gritos, pedia calma aos agentes de segurança e informava que a casa tinha crianças. Foi atingido e caiu. Todos foram levados presos, vivos, em carros separados para local ignorado.
Arlindo foi transferido no dia seguinte para as instalações da Secretaria de Segurança. Soube da morte do companheiro alguns meses mais tarde. O relator da CEMDP concluiu que os fatos expostos permitem a “convicção de que Raimundo Gonçalves, efetivamente, não morreu em confronto armado com os agentes do Estado. Raimundo foi baleado, preso e já sob domínio dos agentes públicos, foi morto”.