Biografia
Casado e pai de quatro filhos, estando sua esposa no sétimo mês de uma nova gravidez, Péricles Gusmão Régis era vereador em Vitória da Conquista (BA), do partido Movimento Trabalhista Renovador (MTR). Foi preso no Quartel da Polícia Militar (9º BPM/VC), em 06/05/1964, junto com o prefeito, Pedral Sampaio, e várias pessoas de seu grupo político. O vereador era líder do prefeito na Câmara Municipal. De acordo com a versão oficial, foi encontrado morto no dia 12/05/1964. O médico oftalmologista Hugo de Castro Lima, preso na mesma época, atestou como causa mortis anemia aguda, devido à hemorragia externa, devido a secção de vasos sanguíneos (suicídio)”.
Péricles foi detido por ordem do comandante do 19º Batalhão de Caçadores do Exército, para responder a IPM presidido pelo capitão Antonio Bandoqui em razão de “crime contra a segurança nacional”. No inquérito consta que: “Após prolongado interrogatório, realizado em dependências daquele quartel (...) Péricles (...) foi reconduzido à ‘sua’ cela, onde foi encontrado morto, em 12/05/1964”. Na verdade, o vereador foi interrogado ininterruptamente das 7 horas do dia 11 de maio às 2 horas do dia seguinte.
O relator na CEMDP ressaltou em seu voto o depoimento do radialista Gilson Moura Silva, que ficou na cela até mais de meia-noite do dia 11/05/1964, quando chegaram dois soldados trazendo Péricles, que, segundo eles, “terminara seu longo e tenso interrogatório”. Gilson recebeu ordens de sair da cela para que o vereador ficasse sozinho. “Péricles estava muito deprimido, semblante carregado, muito diferente daquele que eu encontrara dias atrás (...) Mais tarde vimos passar Dr. Hugo de Castro Lima. Horas depois é o próprio Hugo que nos dá a pavorosa notícia da morte de Péricles. Ele não suportara a tortura mental que sofrera na cela, isolado, após o interrogatório”.
No depoimento de Raul Carlos Andrade Ferraz, consta que “a cela já estava um pouco vazia (...) e quando Péricles voltou (...) o fez apenas para apanhar seus pertences pessoais (...) Foi proibido de conversar (...) estava transtornado (...) saiu e foi para outra cela (...) Pouco depois ouvi vozes e vi Dr. Hugo de Castro Lima entrar pelo corredor e, segundo soube em seguida, este efetuou autópsia e concluiu que Péricles teria se suicidado, teria se cortado com gilete, nos pulsos, no pescoço e no braço”.
O relator acrescenta em seu voto que, nos depoimentos das pessoas mencionadas, ficou clara a militância política de Péricles, o que causou a sua prisão no quartel da Polícia Militar, restando comprovado que, “tendo sido acusado de participação em atividades políticas, faleceu por causas não naturais, muito provavelmente por suicídio, em dependência policial militar”. O reconhecimento da morte de Péricles Gusmão Régis como responsabilidade do Estado foi aprovado por unanimidade, com ressalva à versão de suicídio, apresentada pelos conselheiros Suzana Keniger Lisbôa e Nilmário Miranda.