Biografia
Seu nome consta na lista de desaparecidos políticos anexa à Lei nº 9.140/95. Filho de missionários presbiterianos norte-americanos, nascido em Joaçaba (SC), Paulo Stuart Wrigth sempre se preocupou com as condições de trabalho dos operários. Essa preocupação o levou a trabalhar na construção civil em Los Angeles (EUA), nas férias dos seus estudos de pós-graduação em sociologia. Nos Estados Unidos também fundou um grupo contrário à discriminação racial. Estava fazendo o doutorado em sociologia quando – filho de americanos que era - foi convocado para a guerra da Coréia. Teve de deixar os Estados Unidos e passou a ser procurado pelo FBI.
De volta ao Brasil e casado com Edimar Rickli, o casal se engajou num projeto da Igreja Presbiteriana nas fábricas paulistas. Ele aprendeu o ofício de torneiro-mecânico e atuou no bairro operário de Vila Anastácio. Foi golpeado pela morte do seu primeiro filho num hospital do antigo IAPC, quando a criança faleceu por falta de assistência adequada. Jurou que lutaria para que isso não se repetisse na vida de outros operários. De volta ao seu estado natal, Santa Catarina, ajudou a criar os primeiros sindicatos de Joaçaba, inclusive o dos metalúrgicos. Assumiu uma Secretaria municipal e foi o primeiro candidato protestante à Prefeitura da cidade, em 1960. Concorreu pelo PTB e perdeu por 11 votos. Ainda nesse mesmo ano, tornou-se secretário regional da União Cristã dos Estudantes do Brasil e dirigiu a Imprensa Oficial de Santa Catarina. Em 1962, foi eleito deputado estadual pelo PSP.
Denunciou o controle de grupos oligárquicos de Santa Catarina sobre a pesca e organizou 27 cooperativas de pescadores em todo o litoral daquele estado, reunindo-as, em seguida, numa Federação – a Fecopesca – para colocar o controle da pesca nas mãos dos pescadores (o que inspirou Dias Gomes, na novela O Bem Amado).
Na véspera do Natal de 1963, sofreu um atentado, mas conseguiu convencer o ex-sargento contratado para matá-lo de que tal crime seria contrário aos interesses da sua própria classe. Esse sargento teria sido contratado pelo suplente de Paulo Wright, um bicheiro ligado a Adhemar de Barros, o corrupto governador paulista que já atuava abertamente em favor de um golpe militar para depor João Goulart. Depois de abril de 1964, a Assembléia Legislativa catarinense, para demonstrar sua adesão ao novo regime e sob pressão da Marinha e da Secretaria de Segurança Pública, sentiu-se na obrigação de cassar o mandato político de algum deputado considerado subversivo. Como Paulo Wright não usava gravata e paletó quando subia à tribuna, acabou sendo cassado por “falta de decoro parlamentar”. Registre-se que o próprio PTB, partido do presidente da República deposto, votou a favor da cassação.
Asilou-se no México, de onde voltou, clandestinamente, um ano depois. Começou então a sua militância clandestina como dirigente da AP. De acordo com documentos dos órgãos de segurança, foi o representante oficial dessa organização na reunião da OLAS – Organização Latino-Americana de Solidariedade, realizada em Havana em agosto de 1967. Teria recebido treinamento militar tanto naquele país quanto em Pequim. Foi submetido a vários processos na Justiça Militar, recebendo algumas condenações.
Entre 1971 e 1972, ao lado do principal dirigente da AP, Jair Ferreira de Sá, alinhou-se com a ala dessa organização que se opôs à incorporação de seus militantes ao PCdoB, após uma longa disputa interna que culminou, em setembro de 1972, com a separação definitiva dos dois grupos. A chamada maioria foi incorporada ao PCdoB, entre eles o atual presidente do partido, Renato Rabelo ao passo que Paulo Wright, Jair, Honestino Guimarães e outros militantes mantiveram-se na AP, já rebatizada como Ação Popular Marxista Leninista.
Nos primeiros dias de setembro de 1973, foi seqüestrado e levado ao DOI-CODI/SP, onde foi morto sob torturas em 48 horas. Segundo informações de Osvaldo Rocha, dentista, militante da APML na ocasião do desaparecimento de Paulo, ambos estavam juntos num trem que ia de São Paulo a Mauá, na Grande São Paulo. Nessa ocasião, ao terem percebido que eram seguidos por agentes da repressão política, Osvaldo desceu do trem em primeiro lugar e Paulo combinou que desceria em outro ponto.
Ao chegar em sua residência, localizada em São Paulo, Osvaldo foi preso por policiais, sendo, em seguida, conduzido às dependências do DOI-CODI, onde foi despido e passou a ser torturado violentamente. Nessa oportunidade, viu no chão a mesma blusa que Paulo usava há pouco, quando estavam no trem. Foram impetrados habeas-corpus pelo advogado José Carlos Dias em favor de Paulo Stuart Wright e de Pedro João Tinn, nome falso usado por ele nos documentos pessoais. Inúmeras iniciativas foram tomadas visando à sua localização. A primeira providência foi a ida do seu irmão, Jaime Wright, acompanhado do coronel Teodoro Pupo, ao DOI-CODI, onde falaram com um sargento que demonstrava muito nervosismo. Após essa conversa, o sargento foi ver alguma coisa lá dentro, voltando meia hora depois e informando que não havia ninguém com o nome de Paulo Stuart Wright. O advogado José Carlos Dias, que pertenceu à Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e, posteriormente, seria ministro da Justiça, também apresentou declarações de uma testemunha que esteve com Paulo Wright na sala de identificação do DOI-CODI/SP, Maria Diva de Farias.
Além das iniciativas tomadas pelos familiares no âmbito nacional, em virtude da sua dupla cidadania foram realizadas iniciativas também junto ao Departamento de Estado e ao Senado dos Estados Unidos. As autoridades brasileiras, na época, continuaram negando a prisão de Paulo, entendendo que se tratava de uma ingerência do governo norte-americano, porque ele havia sido deputado da Assembléia Legislativa de Santa Catarina. Apesar de todos os esforços empreendidos pelos familiares, sua prisão nunca foi confirmada e seu corpo até hoje não foi encontrado. Sua ficha foi encontrada na gaveta dos arquivos secretos do DOPS/PR que continha 17 militantes de oposição ao regime militar com a anotação “falecidos”.
Esse seu irmão, Jaime Wright, pastor presbiteriano, tornou-se um grande símbolo da luta pelos Direitos Humanos no Brasil, sendo em outubro de 1975 um dos co-celebrantes do culto ecumênico realizado na Catedral da Sé em protesto contra a morte sob torturas de Vladimir Herzog, e também um dos responsáveis pelo projeto Brasil: Nunca Mais, que propiciou profundo inventário das torturas e dos assassinatos perpetrados pelos porões do regime militar.