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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: OLAVO HANSEN
 

Nome: OLAVO HANSEN

Pai: Harald Hansen

Mãe: Borborema Hansen

Idade quando desaparecido:

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
082/96
Nome
OLAVO HANSEN
Data de Nascimento
14/12/1937
Municipio de Nascimento
São Paulo (SP)
Status
Desaparecido
Biografia

 

Dirigente do PORT assassinado sob torturas em São Paulo, em maio de 1970, Olavo fez o curso primário em Guarulhos e continuou os estudos no Ginásio Dona Leonor Mendes de Barros, em São Bernardo do Campo, onde passou a residir. Em 1954, mudou-se para Mauá e fez o científico no Colégio Américo Brasiliense, em Santo André. Ingressou na Escola Politécnica da USP, onde freqüentou até o 2º ano do curso de Engenharia de Minas, militando no Movimento Estudantil. Antes, tinha sido office-boy em várias empresas, trabalhou em bancas de jornal e montou a primeira escola de datilografia de Mauá, buscando sempre custear seus próprios estudos.

 

Abandonou o curso de Engenharia para dedicar-se integralmente à militância sindical e política, passando a trabalhar como operário em uma fábrica de carrocerias no bairro de Vila Maria. Com o Sindicato dos Metalúrgicos sob intervenção após 1964, tornou-se ativo lutador da oposição sindical. Quando preso e assassinado sob torturas, trabalhava como operário na indústria química IAP, de fertilizantes, em Santo André.

 

Em seu prontuário, encontrado nos arquivos do DOPS/SP, constam diversas prisões: 07/03/1963, por distribuir panfletos sobre Cuba; 07/11/1964, por suas atividades nas recentes assembléias do Sindicato dos Metalúrgicos, sendo solto através de habeas-corpus em 30/11/1965. E a referência à ultima prisão, da qual não saiu vivo: preso e colocado à disposição da Delegacia de Ordem Social em 02/05/1970 por estar distribuindo panfletos subversivos na praça de esportes do Sindicato dos Têxteis, no dia anterior.

 

Olavo participava de atividades comemorativas do Dia Internacional do Trabalho, ao ser preso pelo DOPS/SP, junto com outras 18 pessoas, na praça de esportes da Vila Maria Zélia. Passou por diversos presídios – Batalhão Tobias Aguiar, QG da Polícia Militar, OBAN e finalmente DOPS, onde ficou detido na cela n° 2. No dia 5 de maio, foi retirado dessa cela e conduzido à sala de interrogatórios, onde permaneceu por mais de 6 horas. Na volta, os companheiros ouviram dele o relato das torturas sofridas: obrigado a despir-se, sofreu queimaduras com cigarros e charutos, choques elétricos oriundos do tubo de imagens de um televisor, palmatória nos pés e nas mãos, espancamentos e pau-de-arara com afogamentos. Os presos políticos passaram a exigir que fosse chamado um médico para prestar assistência a Olavo, o que só aconteceu no dia 6 de maio. Além dos ferimentos visíveis por todo o corpo, ele apresentava sinais evidentes de complicações renais e edema nas pernas.

 

O médico que o assistiu, Geraldo Ciscato, lotado no DOPS/SP, recomendou somente que ingerisse água, providenciando curativos em alguns ferimentos superficiais. O estado de Olavo vinha se agravando a cada dia. Os demais presos políticos promoveram manifestações coletivas para que fosse providenciada assistência médica efetiva. Tudo em vão. Somente no dia 8 de maio, quando seu estado já era gravíssimo, o médico voltou a vê-lo, dando ordens para que fosse removido a um hospital.

 

No dia 13 de maio, a família foi informada de que Olavo se suicidara no dia 9, intoxicado por ter ingerido o inseticida Paration. Assinou a solicitação de exame necroscópico o delegado do DOPS Alcides Cintra Bueno Filho e, o laudo, os legistas Geraldo Rebelo e Paulo Augusto Queiroz Rocha. Os legistas descreveram equimoses, lesões e ferimentos, registrando que tais lesões não teriam ocasionado a morte; e concluíram que poderia ter sido decorrente de envenenamento.

 

Sua morte foi denunciada na Câmara dos Deputados por 27 sindicatos de São Paulo, cinco Federações Sindicais, pela Igreja, intelectuais e estudantes, como também por organizações sindicais latino-americanas, tendo como porta-voz o líder do MDB Oscar Pedroso Horta. Diante das denúncias, o governo viu-se na contingência de abrir um inquérito, que foi encerrado com o seguinte resultado: Olavo Hansen praticara suicídio ingerindo o inseticida Paration, que mantinha escondido em suas vestes após a prisão. Nenhum dos militantes presos com Olavo foi ouvido.

 

Os presos políticos que se encontravam no DOPS acusaram os responsáveis pela morte de Olavo: delegado Ernesto Milton Dias e delegado Josecyr Cuoco, com suas respectivas equipes, sob o comando do investigador Sálvio Fernandes do Monte e, ainda, a colaboração do médico Geraldo Ciscato.

 

Somente com a abertura de alguns arquivos da repressão política se pode constatar, pela requisição de necropsia ao IML e pelo laudo, que seu corpo fora encontrado no Hospital Central do Exército, e não no Museu do Ipiranga, conforme a versão do laudo e da nota oficial dos órgãos de segurança. O Relatório do Ministério da Aeronáutica, de 1993, registra sobrei Olavo “falecido em São Paulo, no Hospital Militar, em 8 de maio de 1970, de morte natural, segundo comprovado através de inquérito, cujo Relatório, bem como o despacho de arquivamento do Juiz Auditor, foram publicados no ‘Correio da Manhã’ de 20 de novembro 1970”.

 

O relator na CEMDP destacou que o processo protocolado incluía um detalhado depoimento da atriz Dulce Muniz, que esteve presa com Olavo Hansen. Explica ela que 13 sindicatos organizaram uma festa de 1º de Maio, no estádio Maria Zélia, com a participação de familiares, numa tentativa de reorganizar os trabalhadores. O grupo de presos foi levado para o Batalhão Tobias Aguiar e, depois, para a OBAN. Dulce tinha 22 anos e estava com o marido, Hélio, e mais 15 jovens. O mais velho era Olavo, com 30 anos, que tentava acalmar a todos. Já no DOPS, quando, uma tarde, Dulce desceu do interrogatório, Olavo quis falar com ela. Ele estava sentado no meio da cela e os companheiros tiveram que carregá-lo pelos dois braços para chegar até a janelinha da porta. Foi a última vez que o viu. Nesta mesma noite, Olavo foi levado em coma para o hospital.

 

O relator concluiu que “é inaceitável a versão de suicídio e encontro do cadáver em via pública, devendo ser reconhecido, por esta Comissão, o falecimento de Olavo Hansen em 09/05/1970, por causa não natural, em dependência hospitalar militar, para onde foi levado em estado de coma, no dia anterior, estando preso, sem interrupção desde o dia 01/05/1970”.

Local de morte/desaparecimento
São Paulo (SP)
Organização política ou atividade
PORT
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Data do julgamento
29/02/1996
Data da publicação no DOU
06/03/1996
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