Nome: ODIJAS CARVALHO DE SOUZA
Pai: Osano Francisco de Souza
Mãe: Anália Carvalho de Souza
Idade quando desaparecido:
Estudante de agronomia e militante do PCBR, Odijas Carvalho de Souza foi preso na praia de Maria Farinha, no município de Paulista, hoje Abreu e Lima, Pernambuco, no dia 30/01/1971, junto com a jovem Lylia Guedes, de 18 anos. Odijas era líder estudantil na Universidade Rural de Pernambuco, estudava Agronomia, vendia livros e dava aulas particulares.
Há inúmeros depoimentos detalhando as brutais torturas a que Odijas foi submetido na Delegacia de Segurança Social de Recife, praticadas por cerca de 10 policiais, denunciados mais tarde, nome a nome, por outros presos políticos, destacando-se entre os algozes o investigador Miranda, notório torturador que foi apontado como um dos assassinos do padre Henrique em 1969.
Odijas foi levado para o Hospital da Polícia Militar de Pernambuco no dia 6 de fevereiro, em estado de coma, morrendo dois dias depois, aos 25 anos. A divulgação oficial de sua morte foi feita somente no dia 28 de fevereiro, alegando-se causa natural. Foi enterrado no Cemitério de Santo Amaro, em Recife, sob o nome de Osias de Carvalho Souza. Os presos políticos Lylia Guedes, Alberto Vinícius de Melo, Cláudio Gurgel, Carlos Alberto Soares e Rosa Maria Barros dos Santos, além da esposa de Odijas, Maria Yvone de Souza Loureiro, também denunciaram a morte sob torturas em depoimentos prestados nas Auditorias Militares de Recife e Fortaleza. Embora o médico legista Ednaldo Paz de Vasconcelos tivesse atestado embolia pulmonar como causa mortis, Odijas apresentava várias fraturas de ossos, ruptura de rins, baço e fígado. A advogada Mércia Albuquerque conseguiu vê-lo no hospital, onde entrou disfarçada de enfermeira, encontrando Odijas divagando e golfando sangue.
Depoimento do preso político Alberto Vinicius de Melo descreve em detalhes o suplício: “No dia 30 de janeiro de 1971 fui acordado cedo por uma grande movimentação. Por volta das 7h, Odijas passou diante da cela, conduzido por policiais. (...) Apesar da existência da porta de madeira isolando a sala do corredor, chegaram até nós os gritos de Odijas, os ruídos das pancadas e das perguntas cada vez mais histéricas dos torturadores. Durante esse período, Odijas foi trazido algumas vezes até o banheiro, colocado sob o chuveiro para em seguida retornar ao suplício. Em uma dessas vezes, ele chegou até minha cela e pediu-me uma calça emprestada, porque a parte posterior de suas coxas estava em carne viva. Os torturadores animalizados se excitavam ainda mais, redobrando os golpes exatamente ali. Em um determinado momento, nossa tensão, angústia e impotência eram tão grandes que Tarzan (outro preso político) resolveu contar os golpes e gritos sucessivos. Lembro-me que a contagem passou dos 300. Por volta das 2h, os torturadores, extenuados e vencidos,colocaram Odijas na cela. Passados alguns minutos, apareceu o delegado Silvestre. Visivelmente irritado, gritando com os torturadores, ordenou o reinício do assassinato que se prolongou até 4h do dia 31 de janeiro. Desse dia ao dia 5 não foi mais torturado fisicamente. Seu estado de saúde era gravíssimo. Estava com retenção de urina, vomitando sangue e sem alimentar-se. Foi retirado uma vez para um hospital, onde urinou por meio de sonda. O ódio e a selvageria dos torturadores deixaram que ele definhasse, sem assistência médica, até, finalmente, sem possibilidade de sobrevivência, ser retirado às pressas para um hospital, vindo a falecer três dias depois”.
O deputado Oscar Pedroso Horta, líder do MDB na Câmara dos Deputados e membro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, colegiado pertencente ao Ministério da Justiça naquela época, protocolou denúncia sobre a morte de Odijas, mas o processo foi arquivado sem que os companheiros de prisão fossem ouvidos. Também o deputado estadual Jarbas Vasconcelos, mais tarde governador de Pernambuco, visitou os presos políticos que testemunharam as torturas de Odijas, denunciando o fato na tribuna da Assembléia Legislativa.
De acordo com o general Oswaldo Pereira Gomes, relator do processo na CEMDP, “essa prova testemunhal de presos e companheiros de lutas têm valor se cotejadas e amparadas por outros indícios conforme passamos a expor: Odijas foi preso pela Polícia de Pernambuco em 30/01/1971 (doc. da SSP de Pernambuco); a vítima somente baixou ao HPM de Pernambuco no dia 06/02/1971; faleceu de embolia pulmonar no dia 8 de fevereiro. A baixa ao Hospital foi por problemas renais; a morte por embolia pulmonar, dois dias depois. A idade de Odijas: 26 anos; o fato de não haver qualquer notícia de que fosse uma pessoa doentia; o curto espaço de tempo da prisão: 6 dias; e principalmente a ‘causa mortis’ - embolia pulmonar, tudo a indicar que sofreu violenta ’ agressão física”. O requerimento foi aprovado por unanimidade na Comissão Especial.
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