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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: Vladmir Herzog
 
Vladmir Herzog

Nome: Vladmir Herzog

Pai: Zigmund Herzog

Mãe: Zora Herzog

Idade quando desaparecido:

Dôssie
.
Procedimento administrativo CEMDP
210/96
Nome
Vladmir Herzog
Data de Nascimento
27/06/1937
Municipio de Nascimento
Osijek, Croácia
Status
Morto
Biografia

 

O caso Vladimir Herzog produziu uma comoção nacional que fez mudar a atitude da sociedade civil frente às torturas praticadas contra presos políticos. As violências vinham se repetiando há muitos anos. Mas, até então, os casos eram denunciados no exterior e em segmentos numericamente restritos, dentro do País, como universidades, igrejas, parlamentares e entidades vinculadas à defesa dos Direitos Humanos.

 

Ocorreram exceções a essa regra geral, em alguns poucos episódios, como a missa celebrada na Sé de São Paulo na morte do estudante Alexandre Vannucchi Leme, em março de 1973, que reuniu milhares de pessoas. Mas prevaleceu na sociedade brasileira, desde os primeiros casos que foram noticiados, como a morte do sargento Manoel Raimundo Soares, cujo corpo foi encontrado boiando no rio Guaíba, no Rio Grande do Sul, em 1966, uma postura de ceticismo que repetia, em escala reduzida, o fenômeno alemão da recusa em acreditar que os campos de concentração realmente existiam. A morte de Vladimir Herzog ocorreu quando a censura à imprensa começava a ser abrandada e os cidadãos perdiam o medo de discordar e protestar. A repercussão das denúncias trouxe profundos danos à credibilidade do regime militar e permitiu que explodisse um forte sentimento de indignação em todos os meios capazes de formar opinião. A falsidade do alegado suicídio já ficou patente nas próprias fotos que mostravam o jornalista enforcado nas dependências do DOI-CODI paulista, onde tinha se apresentado para depor, atendendo a uma intimação recebida na véspera.

 

Nascido na Croácia, antiga Iugoslávia, Vladimir Herzog chegou ao Brasil aos nove anos de idade. Brasileiro naturalizado, começou a carreira de jornalista em 1959 no jornal O Estado de São Paulo, onde foi repórter, redator e finalmente chefe de reportagem. Em 1965, se estabeleceu em Londres durante dois anos, onde trabalhou como produtor e locutor da BBC. De volta ao Brasil trabalhou durante cinco anos como editor cultural da revista Visão. Em 1971, elaborou uma extensa reportagem de capa para a revista sobre os problemas das TVs educativas no Brasil. Em 1973, passou a trabalhar como secretário do jornal Hora da Notícia na TV Cultura e, em seguida, assumiu o cargo de diretor do departamento de telejornalismo. Nessa função, começou a colocar em prática seu conceito de “responsabilidade social do jornalismo” “responsabilidade social do jornalismo”. Defendia que a TV Cultura deveria produzir um jornalismo profissional, que não fosse servil ao Estado e que, mais do que educativo ou cultural, fosse público. Para Herzog, o jornalismo não podia praticar um monólogo, e sim um diálogo com a sociedade, superando todo tipo de paternalismo e incorporando “os problemas, esperanças, tristezas e angústias das pessoas às quais se dirige” Também era professor universitário e tinha escrito uma peça de teatro.

 

Vladimir Herzog entrou na lista dos visados pelos órgãos de repressão por ser suspeito de integrar o PCB. Foi convocado e compareceu voluntariamente ao DOI-CODI/SP, na rua Tutóia, bairro do Paraíso, às 8 horas da manhã do dia 25/10/1975. No mesmo dia, por volta de 15 horas, teria sido encontrado morto por seus carcereiros e algozes, enforcado com o cinto do macacão de presidiário, mais uma vez com os pés apoiados no chão, em suspensão incompleta. Seus companheiros de prisão foram unânimes em declarar que o macacão obrigatório para todos eles não possuía cinto.

 

Essa farsa terminou de ser desmascarada quando se tornaram públicos os depoimentos de George Duque Estrada e Leandro Konder, jornalistas presos no mesmo local, que testemunharam ter ouvido os gritos de Herzog sendo torturado. Evidências inquestionáveis da tortura tinham sido identificadas pelo comitê funerário judaico, responsável pela preparação do corpo para o sepultamento. Por essa razão, Herzog não foi enterrado na área do cemitério destinada aos suicidas, conforme preceitos religiosos do Judaísmo. Por fim, as afirmações contraditórias dos médicos legistas Harry Shibata, Arildo de Toledo Viana e Armando Canger Rodrigues, durante a ação judicial movida pela família, também contribuíram para desmontar a versão de suicídio. Ao receberem a notícia da morte, jornalistas paralisaram muitas redações em São Paulo, sendo que os responsáveis pelas empresas precisaram negociar para que os profissionais garantissem a edição do dia seguinte. O Sindicato dos Jornalistas declarou vigília permanente e foi convocada uma celebração religiosa na Catedral da Sé, que o então comandante do II Exército, general Ednardo D’Avila Melo, tentou impedir fechando as avenidas que conduziam ao centro de São Paulo. Mesmo assim, milhares de pessoas se aglutinaram no templo superlotado, extravasando para um parte da praça, durante o culto ecumênico concelebrado pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, pela rabino Henry Sobel e pelo reverendo Jaime Wright, irmão do desaparecido político Paulo Stuart Wright.

 

Em 1978, uma decisão judicial declarou a União responsável por sua morte. A partir disso, a tramitação do processo referente a Herzog na CEMDP não teve qualquer controvérsia ou percalço, sendo o requerimento aprovado por unanimidade logo nos primeiros meses de funcionamento da Comissão Especial. Lamentavelmente, o Relatório do Ministério da Marinha, apresentado ao ministro da Justiça Maurício Corrêa, em 1993, quando o Estado Democrático de Direito já completava cinco anos de vigência plena em nosso país, preferiu manter-se fiel à versão dos porões do regime ditatorial: “suicidou-se em 25 de outubro de 1975, por enforcamento, no interior da cela que ocupava no DOI-Codi do II Exército, segundo apurado em IPM e laudos elaborados pelos órgãos competentes da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo”.

 

Em 1979, em homenagem a Vlado — como era conhecido pelos seus colegas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo criou o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Local de morte/desaparecimento
São Paulo (SP)
Organização política ou atividade
PCB
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
Publicação no DOU: 11/04/1996
Referências
Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. 1ª Edição.Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007.
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