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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: LAURIBERTO JOSÉ REYES
 
LAURIBERTO JOSÉ REYES

Nome: LAURIBERTO JOSÉ REYES

Pai: José Reyes Daza Júnior

Mãe: Rosa Castralho Reyes

Idade quando desaparecido:

Dôssie
NC
Procedimento administrativo CEMDP
270/96
Nome
LAURIBERTO JOSÉ REYES
Data de Nascimento
02/03/1945
Municipio de Nascimento
São Carlos (SP)
Status
Morto
Biografia

 

Alexander José Ibsen Voerões e Lauriberto José Reyes, militantes do Molipo, foram mortos em São Paulopor agentes do DOI-CODI/SP em 27/2/1972.

 

Paulista de São Carlos, Lauriberto era estudante da Escola Politécnica da USP, morador do CRUSP, versado no debate de questões culturais, tendo em 1968 polemizado intensamente sobre temas como o tropicalismo e a relação entre militância política e criação artística. Integrou a diretoria da UNE e foi um dos organizadores do 30º Congresso da entidade em Ibiúna, em 1968, onde foi preso, sendo libertado no dia seguinte para comparecer ao enterro do pai em sua terra natal. Integrou a Dissidência Estudantil do PCB/SP até a formação da ALN. Con-forme já mencionado na apresentação do caso Ruy Berbert, os órgãos de segurança do regime militar acusavam Lauriberto de ser um dos três militantes reconhecidos entre os nove que seqüestraram um avião da Varig na rota Buenos Aires-Santiago, em 4/11/1969, desviando-o para Cuba. Há informações de que, efetivamente, Lauriberto esteve em Cuba recebendo treinamento militar, ocasião em que se integrou ao grupo dissidente da ALN gerador do MOLIPO, retornando ao Brasil em 1971. Os mesmos organismos de repressão o incluíam como um dos guerrilheiros envolvidos num choque em que morreu um sargento da PM de São Paulo, poucas semanas antes de sua própria morte.

 

A nota policial, publicada em fevereiro de 1972, dizia que Alexander e Lauriberto foram mortos na rua Serra de Botucatu, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, depois de intenso tiroteio, sendo também morto um funcionário público aposentado, Napoleão Felipe Biscaldi, morador do local.

 

O processo de Lauriberto foi o primeiro a ser julgado pela CEMDP. O atestado de óbito, firmado por lsaac Abramovitc e emitido no dia 29/02/72 registra que Lauriberto faleceu às 17 horas do dia 27/2/1972, apresentando como causa da morte lesões traumáticas crânience-fálicas. A requisição de exame feita pelo DOPS ao IML/SP dá como histórico: “Após travar tiroteio com os agentes dos órgãos de segurança, foi ferido e, em consequência veio a falecer”. No exame necroscópico realizado pelo mesmo legista, consta a descrição de quatro tiros: no ombro esquerdo, na coxa direita, e dois na cabeça – um no olho esquerdo e outro na porção média da região frontal. No laudo de Alexander também são descritos quatro tiros: um no braço direito, dois na cabeça e um no pescoço. Ao examinar os documentos e algumas contradições entre as informações divulgadas nos jornais da época, o relator da CEMDP passou a considerar a hipótese de execução, solicitando que os familiares fizessem um levantamento mais detalhado.

 

A Comissão de Familiares voltou ao local, na rua serra de Botucatu, no Tatuapé (SP), exercendo exaustiva pesquisa com vários moradores da rua e imediações. Em relatório apresentado à CEMDP, constam depoimentos comprovando que o local estava ocupado por verdadeira operação militar, incluindo a presença de uma metralhadora com tripé. Um dos depoentes relatou ter visto um rapaz bem jovem, que tentava correr, mancando e segurando a perna. Viu também um opala branco com policiais armados de metralhadora, com metade do corpo para fora, que atiraram em Napoleão Felipe Biscaldi, que procurava atravessar a rua e, em seguida, atiraram no rapaz que mancava. Segundo o mesmo morador, “parecia uma guerra — todo mundo viu ou ouviu que Napoleão foi morto pela polícia, mas era um tempo que todo mundo tinha medo de falar”.

 

Pelos relatos colhidos no local, todos foram testemunhas da execução dos militantes e do vizinho Napoleão, cujo corpo ficou cinco horas na rua, enquanto os corpos de Lauriberto e Alexander foram levados de imediato. Não foi feita qualquer perícia de local. De acordo com a pesquisa, concluiu-se que o rapaz morto junto ao Sr. Napoleão foi Alexander, sendo Lauriberto morto no outro quarteirão. É referida tam-bém a presença entre os policiais de uma jovem portando as características típicas de outra militante do MOLIPO, que estava presa e pode ter sido levada a informar o local de encontro com os companheiros mortos.

 

O relator do processo de Lauriberto na CEMDP considerou evidente a existência de um cerco previamente montado, ressaltando que a ordem não era prender os militantes, e sim eliminá-los. Apesar de não ser possível recuperar a dinâmica do evento, ressaltou os quatro tiros descritos em Lauriberto: dois na cabeça, um no ombro e outro na perna direita, chamando atenção para os dois tiros certeiros na cabeça, indício forte de execução, uma vez que os outros tiros seriam suficientes para imobilizá-lo.

 

Alexander foi enterrado no Cemitério da Paz, na Vila Sônia, em São Paulo. Relatório encontrado nos arquivos do DOPS comprova o acompanhamento do enterro pelos agentes policiais, informando que no IML haveria cerca de 50 pessoas e que o cortejo foi composto de mais ou menos 12 carros. Dirigido ao delegado titular do DOPS, os agentes garantem que o caixão não fora aberto pelos familiares, o que parece denotar o esforço para relatar que uma ordem recebida fora cumprida.

 

O caso de Lauriberto foi julgado e deferido pela CEMDP em agosto de 1997. A família de Voerões, no entanto, somente deu entrada ao processo em 2002, após a reabertura de prazo da Lei nº 9.140/95. O relator retomou o parecer do caso de Lauriberto Reyes, por se tratar de situação análoga. “As testemunhas, moradoras do bairro, deixam claro que não houve perícia no local e que os corpos foram jogados no porta-malas do veículo. Os depoimentos falam de um cerco, de um dispositivo que evidenciava completa superioridade e controle pelos agentes de segurança”. Pelos depoimentos, agregou o relator, depreende-se que os agentes do DOI-CODI/SP mataram Napoleão Biscaldi supondo tratar-se também de um militante do MOLIPO. Napoleão Biscaldi consta, em publicações, entrevistas e sites de ex-integrantes dos órgãos de segurança, como um dos nomes de pessoas que teriam sido mortas pelos militantes de esquerda.

 

Em São Carlos, existe hoje uma praça batizada com o nome de Lauriberto, no Parque Santa Marta, onde uma placa traz a inscrição: “Lauriberto José Reyes. Estudante são-carlense que lutou pela liberdade e democracia no Brasil. A vida por uma causa”. Mais tarde, a homenagem se repetiu quando a Câmara Municipal daquela cidade aprovou projeto de conferir o nome Lauriberto José Reyes ao Centro da Juventude que seria inaugurado no bairro Cidade Aracy.

Local de morte/desaparecimento
São Paulo (SP)
Organização política ou atividade
MOLIPO
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
Publicação no DOU: 13/8/1997
Referências
Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Direito à Verdade e à Memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. 1ª Edição. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007.
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