Nome: JANA MORONI BARROSO
Pai: Benigno Girão Barroso
Mãe: Cyrene Moroni Barroso
Idade quando desaparecido: 26 anos
Jana era uma cearense de uma conhecida família de Fortaleza, cresceu em Petrópolis (RJ), onde praticou escotismo, primeiro como “Lobinho”, depois “Bandeirante”. Concluiu naquela cidade o ensino médio e cursou até o quarto ano de Biologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se integrou à Juventude do PCdoB. Trabalhou com outros companheiros como responsável pela imprensa clandestina do partido. Em 21 de abril de 1971, foi deslocada para a localidade de Metade, região do Araguaia, onde trabalhou como professora e ficou conhecida como Cristina, integrando o Destacamento A da guerrilha. Dedicou-se também a atividades de caça e ao plantio. Casou-se com Nelson Lima Piauhy Dourado. Ao se despedir dos pais, deixou-lhes uma carta explicando as razões de sua opção política e um exemplar do clássico de Gorki, A Mãe, que narra uma sensível história de amor entre um militante socialista e sua mãe na Rússia czarista.
No livro Operação Araguaia, Taís Morais e Eumano Silva escrevem: “Em entrevista ao historiador Romualdo Pessoa Campos Filho, o morador José Veloso de Andrade contou que Cristina morreu nas mãos dos militares. Segundo o depoimento do ex-mateiro Raimundo Nonato dos Santos, o Peixinho, para o Ministério Público, Jana teria sido presa em um local chamado Grota da Sônia. Ela se deslocava para o ribeirão Fortaleza para encontrar Duda (Luiz René Silveira e Silva). Este, já preso, foi obrigado a levar os militares ao ponto. Raimundo, ao avistá-la, teria feito sinal para que fugisse, mas outra equipe já a cercava. Cristina estava desarmada, mas um soldado disparou contra ela. Raimundo afirma que Jana foi deixada no local, insepulta. Apenas uma foto teria sido feita”.
Raimundo Nonato relata em outro depoimento que “Cristina foi presa perto de um local chamado “Grota da Sônia” em homenagem a uma outra guerrilheira que gostava muito daquele lugar; que quando viu a Cristina, que estava desarmada, ainda fez sinal para que ela fugisse,no entanto, outra equipe já vinha entrando, a qual estava sendo guiada pelo Taveira. O soldado Silva atirou na Cristina, que morreu na hora. O comandante da operação chegou a criticar o soldado porque a guerrilheira estava desarmada e podia ser pega viva. O corpo da Cristina foi deixado largado, não foi enterrado e nem retirado nenhum pedaço para identificação. Nessa ocasião foi tirada a foto que foi objeto de reconhecimento anterior (...)”.
Elio Gaspari, em A Ditadura Escancarada, traz outras informações colhidas na mesma fonte: “José Veloso de Andrade, um cearense que sobrevivera à seca de 1932 e desmatava a região desde 68, soube o que aconteceu a Cristina: ‘Ela morreu o seguinte: eles andava com uma equipe, a equipe do...chamavam ele Dr. Terra (...) Aí, toparam nela (...) Não foi combate, ela... (...) eles pressentiram o pessoal do Exército, ela correu (...) Um guia atirou nela. Era o Zé Catingueiro, atirou nela, deu chumbo, mas o chumbo era pequeno, e ela não morreu logo, mas ela morreu...A flor da subversão na boniteza”.
Em vários outros depoimentos, no entanto, a versão é que Jana foi presa viva. Assim, um camponês que foi guia do Exército testemunhou: “Nós chegamos no ‘sapão’ (helicóptero) na cabeceira do Caiano. Nós estávamos acampados de tardezinha, todo mundo na folha, quando vimos aquela mulher vim tomando chegada. Aí os soldados alvoroçaram para atirar e o sargento falou com os soldados: ‘Não atira não, deixa ver quem é primeiro’. Todo mundo ficou em ponto de tiro. Agora, eu não, eu não ficava em ponto de tiro. Ficava com a FAL de um jeito para não desconfiarem. Aí, ela chegou a uma distância como daqui aquele pauzinho ali. Aí pegaram e irradiaram para o Comando de Pontão na mesma hora. Aí o ‘sapão’ veio e pegou ela. Botaram dentro de um saco e botaram o saco dentro de uma caixa, de uma jaula, não sei o que era, e trouxeram para Xambioá ...Eu só vi ela essa vez. ... Era ela mesma. Eu vi sim. Eles me mostraram a fotografia dela. Eles me mostraram idêntica que está neste retrato aí. É fotografia dela, pura. ... Foi bem no fim. Agora, eu não sei se eles mataram ela, se prenderam. Só sei que ela foi pega à mão. Eu vi bem, com esses dois olhos, aqui. Ela veio pedindo por tudo mesmo, chorando mesmo. Ela já estava nua. Roupa toda rasgada. Estava vestida de maiozinho e uma blusinha.
Na mesma linha, segue o depoimento de José da Luz Filho, lavrador cujo pai ficou sete meses preso em Marabá: “A Cristina e o Nelito foram presos e levados pra Bacaba”.
A mãe de Jana, Cyrene Moroni Barroso, visitou várias vezes a região do Araguaia e recorreu aos poderes públicos na busca de informações sobre o paradeiro da filha. Segundo depoimentos colhidos por sua mãe, Jana foi presa e levada para Bacaba, na rodovia Transamazônica, onde operava um centro de torturas. Segundo os moradores da região, na localidade também existe um cemitério clandestino. Conforme o relato de sua mãe, Jana teria sido amarrada praticamente nua e colocada dentro de um saco que foi içado por um helicóptero. Isto teria ocorrido nas proximidades de São Domingos do Araguaia.
A discrepância entre a data de sua morte, indicada no Relatório apresentado pelo Ministério da Marinha, em 1993, ao ministro da Justiça Maurício Corrêa, 08/02/1974, e os convergentes depoimentos apontando sua prisão em 02/01/1974 concorrem no sentido de confirmar que Jana foi presa viva. Série de matérias publicadas no jornal O Globo em 1996 apresentam como data de sua morte 11/02/1974, três dias depois da apontada pela Marinha.
Em Petrópolis, a cidade onde cresceu, existe hoje um centro público de obstetrícia que recebeu o nome Maternidade Jana Moroni Barroso1.
Cursou a Faculdade de Biologia da UFRJ e aí ingressou na vida política. Trabalhou com outros companheiros, como responsável pela imprensa clandestina do PCdoB no Rio de Janeiro. Em abril de 1971, mudou-se para a localidade de "Metade", no sul do Pará. Aí trabalhava como professora primária, além de trabalhar na roça. Casou-se com Nelson Lima Piauhy Dourado, ambos do Destacamento A da guerrilha1.
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1 Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Direito à Memória e à Verdade. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007. p.237-8.
Procedimento administrativo de busca, localização e identificação dos restos mortais
Processo: 00005.201762/2016-57
Os familiares poderão solicitar acesso aos detalhes do procedimento através do e-mail desaparecidospoliticos@sdh.gov.br ou pelo telefone (61) 2027 3484.
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