Biografia
José Roberto cursou o antigo ginásio e científico no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, quando começou a participar do Movimento Estudantil, atuando no grêmio. Estudou também na Aliança Francesa e Cultura Inglesa, fazendo vários outros cursos como cinema e jornalismo. Participou de um concurso de cinema amador de curta metragem, obtendo o 1º lugar. Em 1966, ingressou na Faculdade de Economia da UFRJ, sendo aprovado em 1º lugar no vestibular. Tornou-se ativista do Diretório Acadêmico.
Após a decretação do AI-5, passou a atuar na clandestinidade como integrante da Dissidência da Guanabara, que assumiria em setembro de 1969 o nome MR-8. Era, então, namorado de Vera Sílvia Araújo Magalhães, também militante do MR-8 que participou do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sendo posteriormente presa e torturada. Ela foi banida do país após o seqüestro do embaixador alemão no Brasil, Von Holleben, em junho de 1970.
Documentos dos órgãos de segurança do regime militar registram que, em abril de 1969, na III Conferência dessa organização clandestina, Spiegner foi escolhido como um dos três integrantes de sua Direção Geral, ao lado de Daniel Aarão Reis Filho e Franklin de Souza Martins, grupo que foi ampliado no final daquele ano com a entrada de Cid de Queiroz Benjamin, Stuart Edgard Angel Jones e Carlos Alberto Vieira Munizlll.
Spiegner morreu aos 21 anos, em 17/02/1970, no Rio de Janeiro, na rua Joaquim Silva,nº 53, entrada 5, quarto 8, por agentes do DOICODI/RJ, onde, segundo a versão oficial, teria ocorrido tiroteio. Seu corpo deu entrada no IML às 12h30min do dia 17/02/1970. No laudo de necropsia, assinado pelos legistas Ivan Nogueira Bastos e Nelson Caparelli, consta que, “a morte ocorreu às 05h30min do dia 17. Consta na guia que ele foi “perseguido como elemento subversivo por agentes do DOPS, reagiu à bala ferindo policial, e finalmente foi alvejado mortalmente”. O corpo foi enterrado pela família no Cemitério Comunal Israelita de Vila Rosali.
O relator do caso na CEMDP, ao analisar o processo, ressaltou a estranha demora de sete horas entre o horário da morte e a entrada no IML. A verdade dos fatos foi obtida do próprio laudo do IML, que detalha os ferimentos no corpo. José Roberto recebeu vários tiros, sendo que dois deles contestam a versão oficial. Examinando as fotos de perícia de local, verifica-se que o corpo fora encontrado em uma sala com o piso acarpetado, onde não havia espaço para que pudesse ter sido atingido, de longe, na coxa. O outro ferimento é sintomático de execução.
Afirmou o relator que o laudo descreve “na região temporal direita uma ferida estrelar de bordas escoriadas e queimadas com aspecto das produzidas por entrada de projétil de arma de fogo disparada com arma encostada a cabeça... ambas as regiões orbitárias estão ligeiramente tumefeitas e recobertas por equimoses arroxeadas (...) membro superior esquerdo revela três equimoses arroxeadas no cotovelo (...) duas escoriações pardo avermelhadas no dorso do punho; (...) dedos de ambas as mãos apresentam nas polpas tinta preta da usada para tomar impressão digitais”.
Agregou que as equimoses e escoriações descritas não são compatíveis com a versão de tiroteio e que “a forma das lesões localizadas na face direita da cabeça denota claramente execução, e ainda que as escoriações localizam-se em regiões do corpo humano que configuram tortura em pau-de-arara. Há ainda escoriações na região do punho, denotando que José Carlos foi algemado”. Além disso, a identificação de José Roberto se deu antes de seu corpo ir para o IML, e mostra que o DOPS já o conhecia.
Entre os documentos anexados ao processo na CEMDP, há também um requerimento da 1ª Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro, de 03/04/1970, solicitando o laudo ao IML e referindo-se à morte de José Roberto Spiegner “por acidente”. O relator concluiu seu voto afirmando que José Roberto Spiegner foi morto quando se encontrava detido por agentes dos órgãos de segurança, sob custódia do Estado.