Biografia
Membro do Comitê Central do PCB, responsável pela juventude no partido, Montenegro era cearense de Itapipoca, afrodescendente e nascido de família muito humilde. E estudou em Fortaleza, na Escola Técnica do Ceará, no curso de técnico em edificações, onde começou a participar do Movimento Estudantil secundarista. Tinha como uma de suas características físicas a estatura elevada, que atingia quase 2 metros. Em 1963, foi eleito para a diretoria da União Nacional dos Estudantes Técnicos Industriais – UNETI -, com sede no Rio de Janeiro, quando já tinha ligações com o PCB.
A recém criada UNETI nasceu da necessidade de abordagem mais específica dos problemas vividos pelos estudantes do Ensino técnico.
Atuava em unidade com a UNE e a UBES. Inicialmente funcionando na sede da UNE, na praia do Flamengo, a UNETI, logo conseguiu umasede própria, na rua Paissandu, no mesmo bairro. Ali, além de acomodar melhor o trabalho da entidade, havia espaço para moradia dos seus diretores, entre os quais estava Montenegro. A sede em separado possibilitou que a UNETI ainda tivesse algum tempo de vida legal depois de abril de 1964, o que não aconteceu com a UNE e a UBES, cujas sedes foram imediatamente fechadas após a derrubada de João Goulart.
Montenegro manteve vida legal após abril de 1964, mas não deixou de ser perseguido. Foi indiciado no IPM da UNE, que envolveu mais de mil estudantes, especialmente no Rio de Janeiro. Mas as dificuldades de trabalho e estudo começaram a aparecer e Monte, como era conhecido, foi obrigado a ir para a clandestinidade. Em especial a partir de 1969, viajou e morou em diversos estados. Conforme está relatado no livro Desaparecidos Políticos, num depoimento de seu amigo Orlando Marreti Sobrinho, que o hospedava em São Paulo no dia do desaparecimento, “apesar das dificuldades, nunca perdera a esportividade. Podia ser encontrado por velhos amigos nas ruas de São Paulo ou do Rio de Janeiro, assim como pulava atrás de trio elétrico em pleno Carnaval da Bahia em 1974”.
Foi preso em 29/09/1975, no bairro da Bela Vista, São Paulo, por quatro agentes policiais e teve como testemunhas alguns vizinhos. Posteriormente, o jornalista Genivaldo Matias da Silva, que dividiu um apartamento com Montenegro durante algum tempo e também foi seqüestrado e torturado no DOI-CODI/SP, assegurou em seu interrogatório perante a Justiça Militar tê-lo visto detido naquela dependência policial-militar.
No livro Brasil Nunca Mais, à pág. 265, há a seguinte informação sobre José: “pesquisador de mercado, foi preso em 29 de setembro de 1975, sendo visto no DOI-CODI, conforme denúncia do deputado Laerte Vieira”. Ainda segundo esse livro, Montenegro, ao ser preso, foi levado diretamente a um sítio clandestino dos órgãos de repressão e daí para frente não se teve mais notícias dele. O Relatório do Ministério da Marinha, de 1993, registra sobre esse desaparecido, cujo nome integra a lista anexa à Lei nº 9.140/95, que “foi preso em 30 de setembro de 1975”.
Em A Ditadura Encurralada, Elio Gaspari escreve: “No final de setembro, de acordo com a documentação oficial do II Exército, havia doze presos na carceragem do DOI de São Paulo. Pelo menos dois prisioneiros estavam em outra escrita, a dos calabouços clandestinos. José Montenegro de Lima, encarregado da reconstrução do aparelho gráfico onde se voltaria a imprimir a Voz Operária, foi capturado na Bela Vista.
Viram-no no DOI. Transferido para o sítio do CIE na rodovia Castello Branco, assassinaram-no com uma injeção de matar cavalos”.
A informação sobre injeção foi colhida pelo jornalista na entrevista que o ex-agente Marival Chaves do Canto deu a Expedito Filho, de Veja, em 18/11/1992. Nessa matéria, o ex-sargento do DOI-CODI/SP também aborda a questão dos saques e da corrupção que permearama prática dos porões da tortura: “O último corpo que sei ter sido jogado da ponte é o de José Montenegro de Lima. Mas esse é um casoespecial.(...)Porque mostra que dentro dos órgãos de repressão também havia uma quadrilha de ladrões. Logo depois da invasão da gráficado Voz Operária, Montenegro recebeu do partido 60.000 dólares para recuperar uma estrutura de impressão do jornal. Uma equipe do DOI prendeu Montenegro, matou-o com a injeção, e depois foi na sua casa pegar os 60.000 dólares. O dinheiro foi rateado na cúpula do DOI”.