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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: JOAQUIM CÂMARA FERREIRA
 
JOAQUIM CÂMARA FERREIRA

Nome: JOAQUIM CÂMARA FERREIRA

Pai: Joaquim Baptista Ferreira Sobrinho

Mãe: Cleonice Câmara Ferreira

Idade quando desaparecido: 57 anos

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
132/96
Nome
JOAQUIM CÂMARA FERREIRA
Data de Nascimento
05/09/1913
Municipio de Nascimento
Jaboticabal (SP)
Status
Morto
Biografia

 

Joaquim Câmara Ferreira foi preso em São Paulo no dia 23/10/1970 e morto sob torturas no mesmo dia. Mais conhecido por Toledo, era considerado o número 2 da ALN tendo participado diretamente do sequestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969. Se encontrava em Cuba quando Carlos Marighella foi morto, em novembro do ano anterior. Retornou então ao Brasil e assumiu o comando geral daquela organização clandestina.

 

Sua morte foi divulgada na imprensa, mais uma vez, como sendo trunfo do delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS paulista, conhecido chefe de torturas, processado várias vezes como líder maior do Esquadrão da Morte. Quem teria levado a polícia a localizar Toledo foi o militante da ALN José da Silva Tavares, preso meses antes em Belém e que teria passado a colaborar com os órgãos de segurança. Joaquim Câmara Ferreira nasceu em Jaboticabal (SP), em 05/09/1913. Era membro do Partido Comunista desde 1933. Jornalista, foi diretor de diversas publicações do partido e, em 1937, passou a atuar de forma clandestina, concentrando seu trabalho no sindicalismo do setor ferroviário. Durante o Estado Novo foi preso numa gráfica do PCB e torturado no DOPS paulista até perder algumas unhas da mão. Em 1946, elegeu-se vereador em Jaboticabal, mas no ano seguinte, com a cassação do registro eleitoral do PCB, perdeu o mandato. Em 1953, atuou de forma destacada na greve geral de São Paulo. Foi vogal da Justiça do Trabalho.

 

Em 1964, foi preso em São Bernardo do Campo, onde realizava palestra para operários sobre o papel da imprensa na luta pelas reformas de base, sendo libertado pouco depois. Em 1967, acompanhou Marighella na formação do Agrupamento Comunista de São Paulo, embrião da ALN.

 

Toledo foi preso por volta de 19 horas do dia 23/10/1970, na avenida Lavandisca, bairro de Indianópolis, em São Paulo. A versão divulgada foi de que Câmara morrera ao entrar em luta corporal com os agentes que buscavam prendê-lo. Na verdade, foi levado para um sítio clandestino pelo delegado Fleury, onde morreu no mesmo dia, por volta da meia-noite, conforme apurou a CEMDP.

 

Em telex encontrado nos arquivos do DOPS/PE, o II Exército informa que o DOPS localizara e prendera às 19h30min do dia 23 de outubro, Joaquim Câmara Ferreira, que investira contra os policiais causando em vários deles ferimentos generalizados, tendo falecido no decurso da diligência. Continua a mensagem: “Informo ainda foi dado conhecer repórteres imprensa falada escrita seguinte roteiro para ser explorado dentro do esquema montado na área”.

 

Um Relatório Especial de Informações nº 7/70, exemplar nº 18, do Ministério do Exército, assinado pelo general de Brigada Ernani Ayrosa da Silva, Chefe do Estado-Maior do II Exército, encontrado nos arquivos do DOPS/SP com o título de prisão e morte de Joaquim Câmara Ferreira, Toledo ou Velho, registra que o delegado Sérgio Paranhos Fleury, tendo obtido informação de que José da Silva Tavares, esteve com Toledo, antes de seguir para o norte do país, obteve autorização e apoio do II Exército para buscar o preso e trazê-lo para São Paulo. Depois de cerca de um mês de exaustivo processo de investigação, partindo da colaboração do infiltrado, fora levantada uma pista, no dia 21 outubro. No relatório consta que: “sendo submetido a interrogatório, Toledo foi acometido de crise cardíaca, que lhe ocasionou a morte, apesar da assistência médica a que foi submetido”.

 

A morte de Toledo sob torturas já havia sido denunciada pelos presos políticos da época, baseada nos relatos de Maria de Lourdes Rego Melo e Viriato Xavier de Mello Filho, que também foram torturados no mesmo sítio clandestino do delegado Fleury.

 

Em depoimento prestado à CEMDP, Maurício Klabin Segall, que é filho de Lasar Segall, um dos mais importantes artistas plásticos do Brasil, e convivia com Câmara Ferreira desde a década de 50, relatou o ocorrido com detalhes bem precisos. Maurício foi preso na tarde do dia 23 de outubro, junto com Maria de Lourdes Rego Melo. Os dois foram levados ao sítio do delegado Fleury. Maurício assim narrou os fatos:

 

“(...) No sítio, bem primitivo, ao qual chegamos de olhos vendados, a iluminação era de velas, pois não havia luz elétrica. O sítio aparentemente tinha dois quartos, uma sala/cozinha e um banheiro. Os choques elétricos aplicados no pau-de-arara eram gerados num aparelho, acionado por manivela manual. Já estava lá sendo torturado Viriato, recém chegado de Cuba. (...) Tudo que se passava num dos cômodos, mesmo com porta fechada, se ouvia nos demais. (...) Quando fui pendurado, o interrogador era o próprio Fleury. (...) Em meio da minha tortura no pau-de-arara, já de noite, que vinha durando algum tempo, houve uma agitação coletiva, colocaram uma espécie de apoio nos meus quadris, de forma que fiquei só parcialmente pendurado e a maioria dos policiais deixou às pressas o sítio, deixando apenas dois ou três para trás. Não sei quanto tempo isto durou (no mínimo 2 horas) mas, a um certo momento, fui tirado com as pernas totalmente inermes do pau-de-arara, só podendo andar amparado e fiquei sentado na sala com uma venda nos olhos, mas que deixava uma fresta na parte de baixo. Logo depois, ouvi uma pessoa chegando, arfando desesperadamente, com falta de ar, com sintomas muito parecidos com ataque cardíaco (que eu conhecia pois eram semelhantes daqueles do meu pai, por ocasião de sua morte). Esta pessoa foi levada para o quarto que tinha a cama e não o pau-de-arara. Fiquei sabendo que era Toledo pelos comentários que vinham sendo feitos pelos policiais. Havia muita agitação entre eles e Toledo não parava de arfar. A um certo momento, vi pela fresta inferior da venda dos olhos, passarem duas pernas vestidas de branco, calçadas com sapatos brancos. Não havia dúvida que era um médico. Logo depois, Toledo parava de arfar. Muito rapidamente o acampamento foi levantado e fomos levados de olhos vendados para o DOPS e, a seguir, para a OBAN. (...) Ouvi diversas manifestações de irritação do pessoal da OBAN com o pessoal do Fleury devido à morte de Toledo sem que eles pudessem tê-lo interrogado também (...) Soube depois, também, que Maria, Viriato e eu termos sobrevivido ao sítio se deveu, em boa parte, à morte prematura de Toledo”.

 

Com base em todas essas informações, coletadas e sistematizadas no parecer apresentado à Comissão Especial na reunião de 23/04/1996, o caso foi deferido por unanimidade.

 

Local de morte/desaparecimento
São Paulo (SP)
Organização política ou atividade
ALN
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Referências

Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. 1ª Edição.Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007.

Data da publicação no DOU
25/04/1996
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