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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: JOAQUIM ALENCAR DE SEIXAS
 
JOAQUIM ALENCAR DE SEIXAS

Nome: JOAQUIM ALENCAR DE SEIXAS

Pai: Estolano Pimenta de Seixas

Mãe: Maria Pordeus de Alencar Seixas

Idade quando desaparecido: 49 anos

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
021/96
Nome
JOAQUIM ALENCAR DE SEIXAS
Data de Nascimento
02/01/1922
Municipio de Nascimento
Bragança (PA)
Codinome(s)
Roque
Status
Morto
Biografia

 

Paraense de Bragança, Joaquim Alencar de Seixas mudou-se para o Rio de Janeiro aos 19 anos e trabalhou como mecânico de aviões na Varig, Aerovias e Panair. Perdeu o emprego diversas vezes devido a sua atuação política. Quando trabalhava na Varig, apresentou uma denúncia ligando a empresa ao governo ditatorial de Getúlio Vargas e aos nazistas alemães. No Rio, aproximou-se do Partido Comunista e militou nesse partido até 1953. Logo após a queda de Getúlio, casado com Fanny Akselrud Seixas, a quem conheceu na sede do partido, muda-se para o Rio Grande do Sul, onde desempenha distintas ocupações. Por volta de 1960, volta a residir no Rio. Ocupou o cargo de encarregado de manutenção da Petrobras e participava ativamente do sindicato dos petroleiros quando ocorreu o golpe militar.

 

Demitido da estatal nos expurgos praticados pelo regime militar naquela empresa, Seixas e a família retornam ao Rio Grande do Sul no final de 1964. Na capital gaúcha, milita com o sargento Manoel Raimundo Soares, que seria morto sob torturas em 1966, e das lideranças que formaram o MR-26. Em 1970, a família se muda para São Paulo e se integra ao MRT. No dia em que foi preso – 16/04/1971 – Seixas estava acompanhado do filho adolescente, Ivan, também militante do MRT. A detenção aconteceu na rua Vergueiro, perto do número 9.000 e ambos foram levados para a 37ª DP, localizada na mesma rua, na altura do número 6.000. No pátio do estacionamento, pai e filho foram espancados, enquanto os policiais trocavam os veículos utilizados para efetuar as prisões.

 

Postos em nova viatura, os dois foram conduzidos às dependências do DOI-CODI/SP, na rua Tutóia, antiga Operação Bandeirantes (OBAN). No pátio de manobras daquela unidade, a violência dos espancamentos chegou ao ponto de partir a corrente das algemas que os uniam. Pouco depois, na sala de interrogatório, um foi torturado na frente do outro. Os torturadores se atiraram sobre o pai com especial ferocidade, movidos pela informação de que ele tinha participado, poucos dias antes, da execução do industrial Albert Henning Boilesen, mencionada anteriormente neste livro. Enquanto o suplício se prolongava, a casa da família foi saqueada e foram presas a esposa e os demais filhos.

 

No dia seguinte, 17 de abril, os jornais paulistas publicaram nota oficial dos órgãos de segurança, noticiando a morte de Joaquim Alencar de Seixas, durante tiroteio. Não era verdade. Ele ainda estava vivo. Presos nas mesmas dependências, a esposa Fanny e os filhos Ivan, Ieda e Iara, ouviam claramente sua voz durante os interrogatórios. Por volta das 19 horas os gritos cessaram. Fanny soube, então, que o marido estava morto. Na ponta dos pés, ela espiou pela abertura da cela, viu os policiais estacionarem uma perua C-14 no pátio de manobras e forrar o porta-malas com jornais, testemunhando o momento em que o corpo dele foi jogado no veículo. Ainda escutou um diálogo entre dois agentes: “de quem é esse presunto?”, perguntou um deles, obtendo como resposta: “ de quem é esse presunto?”, perguntou um deles, obtendo como resposta: “ de quem é esse presunto? esse era o Roque”, referindo-se ao nome-de-guerra de Joaquim.

 

No processo formado contra o MRT na Justiça Militar, consta uma fotografia do cadáver de Joaquim Seixas com inequívocos sinais de espancamento e um tiro na altura do coração. Apesar disso, a necropsia, assinada pelos legistas Pérsio José B. Carneiro e Paulo Augusto de Queiroz da Rocha, confirmou a versão oficial, sem identificar o que poderia ter provocado as lesões corporais. Sua esposa e filhos, além de outros presos políticos, denunciaram mais tarde os responsáveis pelas torturas e execução de Joaquim Alencar de Seixas: o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante da unidade, o capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, subcomandante, o delegado Davi Araújo dos Santos o investigador de polícia Pedro Mira Granzieri e outros identificados apenas por apelidos.

 

O legista Nelson Massini examinou os documentos relativos à morte de Seixas e identificou oito lesões contusas, em especial na cabeça, e afirmou “que o Sr. Joaquim Alencar de Seixas sofreu, além dos ferimentos mortais de projéteis de arma de fogo, outras lesões – provenientes de meios e/ou instrumentos – constituídas de forte dor física e sofrimento físico que se define como tortura ou forma cruel de violência”.

 

Local de morte/desaparecimento
São Paulo (SP)
Organização política ou atividade
Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT)
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Referências

Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. 1ª Edição.Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007.

Data da publicação no DOU
25/01/1996
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