Nome: JOÃO CARLOS CAVALCANTI REIS
Pai: João Viveiros Reis
Mãe: Helena Cavalcanti Reis
Idade quando desaparecido: 27 anos
Baiano de Salvador, João Carlos Cavalcanti Reis cursava o quinto ano da Faculdade de Engenharia Mackenzie, em São Paulo, quando se vinculou à ALN e participou de algumas ações armadas durante o ano de 1969. Saiu do país após a onda de prisões que atingiu a organização no final daquele ano, envolvendo um seu sobrinho, Manoel Cyrillo de Oliveira Neto, participante do sequestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick. Depois de receber treinamento militar em Cuba, retornou clandestinamente ao Brasil, já como militante do Movimento de Libertação Popular – MOLIPO. Foi morto no bairro de Vila Carrão, na capital paulista, no dia 30/10/1972. A versão oficial anunciava que, após travar tiroteio com agentes dos órgãos de segurança, foi ferido e morreu.
Os legistas Isaac Abramovitc e Orlando Brandão assinaram o óbito alegando como causa da morte lesões traumáticas crânio-encefálicas. Os familiares viram o corpo no IML, onde também se encontrava o corpo de Antonio Benetazzo, dirigente do MOLIPO morto no mesmo dia. O caixão funerário foi entregue lacrado e soldado, sob o compromisso e a recomendação de jamais ser exumado. Durante o enterro no Cemitério Gethsêmani, um agente de segurança vigiou os procedimentos da família.
Antes da montagem do processo referente a João Carlos para exame na CEMDP, a denúncia que constava no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos era de que fora fuzilado na data e local informados na versão oficial. O exame dos documentos, entretanto, revelou dados Políticos era de que fora fuzilado na data e local informados na versão oficial. O exame dos documentos, entretanto, revelou dados Políticos novos e levou à conclusão de que a versão oficial era falsa.
Pelo que foi possível reconstruir a partir de vários depoimentos, João Carlos e Natanael de Moura Girardi tinham perdido há dois dias o contato com Antonio Benetazzo. Na busca de notícias, foram à casa do militante Rubens Carls Costa, onde Benetazzo havia sido preso dois dias antes. Instalados na casa vizinha, estavam os agentes do DOI-CODI. Natanael conseguiu escapar do cerco, mas João Carlos não.
A certidão de óbito, atestada por Issac Abramovitc, anota que João Carlos Cavalcanti Reis teria falecido no dia 30 de outubro de 1972, às 19 horas. O declarante é o funcionário do DOPS Miguel Fernandes Zaniello.
Abramovitc e Orlando Brandão descreveram duas lesões de entrada na cabeça: no canto externo do supercílio direito, com ferimento de saída na região occipital; e outro ferimento de entrada no canto direito da rima bucal, que fraturou os incisivos laterais direitos e saiu pela porção inferior da região occipital. Apontam ainda ferimentos no terço inferior de ambas as pernas, sem descrever a natureza das lesões ou os instrumentos que as produziram.
A Requisição de Exame ao IML, encaminhada por um delegado do DOPS no dia 30 de outubro, repete o mesmo horário. No entanto, a ficha do IML encontrada nos arquivos do DOPS/SP informa que João Carlos deu entrada no necrotério às 22 horas, vestindo apenas cueca de náilon castanho e meias de algodão cinza. Considerou a maioria da CEMDP que, com certeza, não era possível que João Carlos, assim trajado, tivesse participado de um tiroteio ocorrido supostamente três horas antes da entrada de seu corpo no IML, sendo falsa a versão oficial dos órgãos de segurança.
Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. 1ª Edição.Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007.
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