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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: IARA IAVELBERG
 
IARA IAVELBERG

Nome: IARA IAVELBERG

Pai: David Iavelberg

Mãe: Eva Iavelberg

Idade quando desaparecido: 27 anos

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
253/96 e 071/02
Nome
IARA IAVELBERG
Data de Nascimento
07/05/1944
Municipio de Nascimento
São Paulo (SP)
Status
Morto
Biografia

 

Durante muito tempo prevaleceu a versão de que Iara Iavelberg se matou, disparando contra o próprio coração para evitar as torturas a que certamente seria submetida se apanhada viva no apartamento da Pituba, Salvador (BA), em 20/08/1971, onde estava encurralada pelos órgãos de segurança, entre eles agentes do DOI-CODI/RJ deslocados para aquele Estado na perseguição final a Carlos Lamarca, morto no mês seguinte.

 

Na própria CEMDP foi aprovada num primeiro julgamento, em 1998, por apertada maioria de votos, uma interpretação que aceitava a versão das autoridades do regime militar, o que resultou em indeferimento. Reapresentado em 2002, o caso foi deferido por unanimidade após a ampliação dos critérios da Lei nº 9.140/95, que na redação introduzida pela Lei nº 10.875, de 2004, passou a admitir a responsabilidade do Estado nas mortes em que a pessoa cometeu suicídio na iminência de ser presa. Mas a Comissão Especial não adotou posicionamento formal rechaçando a versão de suicídio, embora alguns integrantes do colegiado tenham se manifestado explicitamente nesse sentido.

 

No momento de sua morte, Iara Iavelberg era uma das pessoas mais procuradas pelos órgãos de repressão política em todo o país, na medida em que já era conhecida a sua relação amorosa com Carlos Lamarca, inimigo número 1 do regime militar naquele momento. Na mesma operação de cerco, foi presa Nilda Carvalho Cunha, de 17 anos, que morreria em novembro do mesmo ano, logo após ser solta com profundos traumas decorrentes das torturas.

 

Nascida em uma família judia estabelecida no bairro do Ipiranga, em São Paulo, Iara Iavelberg sempre foi tida como pessoa muito inteligente e precoce, tendo interesse por diversificadas áreas da vida cultural, além de ser valorizada pela beleza física. Estudou na Escola Israelita do Cambuci, na capital paulista, casou-se pela primeira vez aos 16 anos e ingressou, em 1963, com 20 anos, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, na rua Maria Antônia, para cursar Psicologia. Durante as mobilizações estudantis de 1968, Iara já era psicóloga formada e trabalhava como assistente na própria faculdade. Mesmo não sendo uma dirigente do Movimento Estudantil naquele ano, mantinha imagem de verdadeiro mito entre as lideranças dos estudantes. Foi militante da Polop, da VAR-Palmares e da VPR, tendo ingressado no MR-8 poucos meses antes de morrer. Na VPR, participou de treinamentos de guerrilha no Vale do Ribeira, interior de São Paulo.

 

Sua vida foi retratada em livro por Judith Patarra e, parcialmente, também no filme dirigido por Sérgio Rezende sobre Lamarca, baseado em livro de Emiliano José e Oldack Miranda. Em ambos, a versão oficial de suicídio, divulgada pelos órgãos de segurança, é aceita como verdadeira. Na tradição judaica os suicidas devem ser enterrados numa quadra específica do cemitério e com os pés próximos à lápide, não a cabeça como no caso dos outros mortos.

 

Apenas em 22/09/2003, encerrando 13 anos de ações judiciais mantidas pelos familiares, com apoio do advogado e deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, o corpo de Iara foi finalmente exumado e retirado da ala dos suicidas do Cemitério Israelita de São Paulo, na medida em que o Poder Judiciário curvou-se aos argumentos jurídicos ressaltando as inúmeras contradições presentes na versão oficial dos órgãos de segurança, bem como no suspeito desaparecimento de laudos referentes à sua morte. As circunstâncias em que morreu Iara são cercadas de dúvidas e contradições, como também ocorreu em vários outros processos analisados pela CEMDP. Mas há, nesse caso, um componente maior de mistério, não só por ser ela a companheira de Lamarca, mas pelo fato de que a própria versão oficial só foi divulgada um mês após a morte, em escassas linhas, juntamente com o anúncio da execução de Lamarca e José Campos Barreto no sertão da Bahia.

 

Mesmo dentre os relatórios elaborados pelas Forças Armadas em 1993, há divergências nas versões apresentadas. Enquanto o da Marinha registra “foi morta em Salvador/BA, em ação de segurança”, o da Aeronáutica afirma que “suicidou-se em Salvador/BA em 06/08/1971, no interior de uma residência, quando esta foi cercada pela polícia”. O Exército menciona a morte no relatório oficial da chamada Operação Pajuçara: “No dia 19/08/1971 foi montada uma operação pelo CODI/6 para estourar este aparelho, o que ocorreu ao amanhecer do dia 20, resultando na prisão de Adriana, Jaileno Sampaio Filho, Raimundo, Orlando e de Nilda Carvalho Cunha. Iara Iavelberg, a fim de evitar sua prisão e sofrendo a ação dos gases lacrimogêneos, suicidou-se”.

 

Mais intrigante ainda é o desaparecimento do laudo necroscópico de Iara. No IML Nina Rodrigues, da Bahia, não há sequer o registro de entrada do corpo de Iara no necrotério, muito menos o laudo. A CEMDP buscou exaustivamente os documentos relativos à morte de Iara. Nilmário Miranda esteve pessoalmente em Salvador e colheu diversos depoimentos. Em contatos telefônicos com o diretor do IML/BA, em 1971, Lamartine Lima, este informou que havia duas vias do laudo de Iara, uma entregue à Polícia Federal e outra ao comando da 6ª Região Militar. O Diretor do IML em 1997 afirmou, em ofício para a CEMDP, que o órgão não dispõe de cópia e que o laudo original fora entregue à Polícia Federal, enviando à Comissão Especial cópia dos rascunhos feitos por Charles Pitex por ocasião da necropsia.

 

O empenho da Comissão Especial para obter documentos relativos à morte de Iara, reproduzidos pela imprensa, resultaram na entrega ao ministro da Justiça Nelson Jobim, pela Polícia Federal, de documentos e álbum com fotos dos corpos de Iara e de Lamarca. Foram acrescentados, ainda, muitos depoimentos de testemunhas. Mas importantes perguntas não encontraram ainda uma resposta definitiva: por que não foi realizada a perícia de local, com fotos da arma utilizada para o suicídio, nem exames papiloscópicos para comprovar o suicídio? Por que limparam o pequeno banheiro onde teria se suicidado tão procurada guerrilheira, antes de tirar as fotos com que se tenta demonstrar o local de suicídio? Por que não foi recolhido o projétil, único que teoricamente deveria estar no interior do banheiro? Por que o relatório detalhado do que aconteceu em Pituba nunca foi apresentado?

Local de morte/desaparecimento
Salvador (BA)
Organização política ou atividade
VPR/MR-8
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
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