Nome: ESMERALDINA CARVALHO CUNHA
Pai: Cândido de Sena Cunha
Mãe: Minervina Carvalho Cunha
Idade quando desaparecido:
Esmeraldina Carvalho Cunha foi encontrada morta na sala de sua casa, em Salvador (BA), no dia 20/10/1972, aos 49 anos. O corpo estava pendurado num fio de máquina elétrica.
Esmeraldinha fora casada com Tibúrcio Alves Cunha Filho, com quem teve cinco filhas. A mais nova, Nilda Carvalho Cunha, conforme já relatado neste livro, tinha morrido um ano antes, em 14/11/1971, após dois meses de prisão e torturas em Salvador. A filha Leônia foi militante do PCB e da POLOP. Lúcia também chegou a ser presa, mas foi logo solta. A mais velha, Lourdes foi cruelmente assediada durante muito tempo por agentes do Exército, o que lhe causou sérios problemas emocionais e comportamentais. Esmeraldina, mãe exemplar, separada do marido, lutava pela vida de suas filhas militantes. A dor pela morte de sua caçula, Nilda, a transtornou, mas seu suposto suicídio sempre foi questionado pela família.
Nilda fora presa na madrugada de 20/8/1972, junto com Jaileno Sampaio, seu namorado, na casa onde foi morta Iara Iavelberg, conforme descrito na chamada “Operação Pajuçara”, organizada pelos órgãos de segurança para capturar Lamarca. Assim que soube da prisão da filha, Esmeraldina revirou a Bahia. Procurava os comandantes militares, o juiz de menores, advogados, tentava romper a incomunicabilidade imposta pelo regime. Só conseguiu vê-la tempos depois, na Base Aérea de Salvador. Encontrou a filha em estado lastimável pelas torturas.
Esmeraldina enfrentou, por duas vezes, o major Nilton de Albuquerque Cerqueira, um dos carcereiros da filha, conforme relata o livro Lamarca, o capitão da guerrilha, de Emiliano José e Oldack Miranda. Da primeira vez, o major tentou impor como condição para a soltura de Nilda, que a mãe voltasse a viver com o ex-marido, o que não se concretizou e quase impediu a liberdade da filha. Da segunda vez, o major esteve no quarto de hospital em que Nilda, já em liberdade, estava internada para tratamento. Sua presença e ameaças de retorno à prisão agravaram o estado de Nilda, que morreu dias depois, em circunstâncias nunca esclarecidas.
Esmeraldina não suportou a morte prematura da filha caçula, entrou em depressão profunda e foi internada no Sanatório Ana Nery. Ao sair, passou a buscar desesperadamente as pessoas que poderiam esclarecer o que ocorrera com Nilda - seu médico, que viajara para a Europa, os diretores dos hospitais onde estivera internada. Não encontrava ninguém. Oldack Miranda e Emiliano José descrevem em seu livro: “(...) Ela não se conformava com a morte da filha, chorava, andavas pelas ruas da cidade, delirava e gritava: — Eles mataram minha filha, uma criança! Eles mataram minha filha. São assassinos, do Exército, do Governo. Estão matando estudantes... Até que aparecia alguém e a levava para casa. Mas em qualquer lugar recomeçava de repente a gritar, a falar contra o Governo. Incomodava.(...)”.
Em certa ocasião, quando bradava pelas ruas a morte de Nilda, Esmeraldina foi detida pela Rádio Patrulha, levada à Secretaria de Segurança Pública e liberada, por intervenção de uma amiga que a vira chegar presa. Recebeu, tempos depois, a visita de um estranho que lhe levara um recado, dizendo: “o major mandou avisar à senhora que se não se calar, nós seremos obrigados a fazê-lo”. Mas Esmeraldina não se intimidou e não se calou — as praças de Salvador acolhiam sua angústia e suas denúncias.
A CEMDP fez diversas diligências na busca da verdade, mas nenhuma informação adicional foi acrescida ao processo que, além do relato, contém depoimentos de alguns dos amigos que viram os protestos em praça pública e tiveram conhecimento das ameaças que sofria.
O relatório da CEMDP constata que a angústia e o desespero pela morte de sua filha deixaram Esmeraldina inconsolável, ao se ver envolvida numa trama semelhante à personagem de Kafka em O Processo: cada passo voltava à primeira instância. Destaca, ainda, o relato da filha Leônia de que a mãe, um dia antes de morrer, comprara novos móveis para a casa e que, ao encontrar a mãe dependurada, pudera ver marcas de sangue no chão, que sua face não estava arroxeada, nem sua língua estava para fora, que não houvera deslocamento da carótida, e que mal trazia marca do fio no pescoço.
A CEMDP considerou que a documentação confirmava que a morte de Esmeraldina Carvalho Cunha se deu em conseqüência de seus atos públicos contrários aos interesses da época, resultantes de seu inconformismo e conhecimento das atrocidades praticadas por agentes do poder público.
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