Nome: Luiz Eduardo da Rocha Merlino
Pai: Zeno Merlino
Mãe: Iracema Rocha Merlino
Idade quando desaparecido:
Ainda estudante secundarista, Luiz Eduardo participou do Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE. Com 17 anos, transferiu-se para São Paulo, onde integrou a primeira equipe de jornalistas do recém-fundado Jornal da Tarde, onde escreveu importantes matérias sobre os índios Xavantes e sobre o “mau patrão” J.J. Abdala, proprietário da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus. Trabalhou depois na Folha da Tarde, liderando uma greve deflagrada nesse diário quando da decretação do AI-5 e, depois, no Jornal do Bairro, nos anos de 1969 e 1970.
Participou da produção do jornal Amanhã, editado pelo Grêmio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Como aluno de História daquela universidade, esteve presente nas mobilizações estudantis de 1968. Fez a cobertura do 30º Congresso da UNE em Ibiúna, em outubro de 1968, como repórter da Folha da Tarde. Nessa época, já era militante do POC.
A partir de 1969, com o endurecimento do regime, aprofundou sua militância em atividades clandestinas de oposição, sem deixar a vida de jornalista. Em dezembro de 1970, viajou para a França para um período de estudos e contatos, sobretudo no âmbito da IV Internacional, de orientação trotskista. Participou como observador do 2º Congresso da Liga Comunista, organização francesa da IV Internacional, em Rouen.
Cinco dias depois de sua volta, utilizando passaporte legal, foi preso na casa da mãe, em Santos, em 15 de julho de 1971. Os agentes policiais estavam especialmente interessados na localização de sua namorada, Ângela Mendes de Almeida, dirigente do POC que os órgãos de segurança procuravam furiosamente. Na sede do DOI-CODI/SP, na Rua Tutóia, Luiz Eduardo foi torturado por cerca de 24 horas ininterruptas e abandonado numa solitária, a chamada “cela forte” ou “x-zero”.
Apesar de se queixar de fortes dores nas pernas, fruto da longa permanência no suplício do pau-de-arara, não recebeu tratamento médico, apenas massagens acompanhadas de comentários grosseiros por parte de um enfermeiro de plantão, de traços indígenas e que respondia pelo nome “Boliviano” ou “Índio”. A cena foi presenciada por vários presos políticos.
As dores nas pernas eram, na verdade, uma grave complicação circulatória decorrente das torturas. No dia 17, Merlino foi retirado da solitária e colocado sobre uma mesa, no pátio, para receber massagem em frente às celas 2 e 3. Diversos companheiros constataram o seu estado de saúde e alguns falaram brevemente com ele, que se queixava de dormência completa nos membros inferiores. Horas mais tarde, seu estado piorou e ele foi removido às pressas para o Hospital Geral do Exército, onde morreu.
A reconstituição dos fatos se deu a partir de relatos do preso político Guido Rocha, que esteve na solitária com ele e, ainda, depoimentos de Eleonora Menicucci, Ricardo Prata Soares e Laurindo Junqueira Filho, prestados na Justiça Militar. Zilá Prestes Prá Baldi declarou que o viu depois de morto, com o corpo cheio de equimoses. Rui Coelho, diretor da Faculdade de Filosofia da USP, também preso naquela unidade, foi outra testemunha do seu martírio.
Embora no atestado de óbito conste a data de 19 de julho de 1971, a morte só foi comunicada à mãe no dia 20, à noite. Na requisição de exame necroscópico, no item referente ao histórico do caso, lê-se “no dia e hora supra mencionados (19/07/71 – 19h30 – BR-116 Jacupiranga), ao fugir da escolta que o levava para Porto Alegre (RS) na estrada BR-116, foi atropelado e em consequência dos ferimentos faleceu”.
O laudo necroscópico concluiu que Merlino morreu de anemia aguda traumática por ruptura da artéria ilíaca direita. Assinado por Isaac Abramovitch e Abeylard de Queiroz Orsini, registrava: “segundo consta, foi vítima de atropelamento”, versão não acatada pela CEMDP que, por unanimidade, concluiu que Luiz Eduardo morrera em função das torturas, acompanhando o voto do relator, Nilmário Miranda, que enfatizou a evidência de farsa nos comunicados oficiais.
A imprensa foi proibida de noticiar a morte, mas em 26/08/1971, O Estado de São Paulo publicou um anúncio fúnebre convidando para uma missa de 30º dia, que foi celebrada na Catedral da Sé no dia seguinte, com a presença de centenas de jornalistas e amigos.
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