Nome: CARLOS ANTUNES DA SILVA
Pai: Benone Antunes da Silva
Mãe: Odete Izaurina Reis
Idade quando desaparecido:
Nascido no Rio Grande do Norte e dirigente da ALN em São Paulo, seu nome integrou a lista de 136 desaparecidos do Anexo à Lei no 9.140/95. Ainda criança, deslocou-se com sua família para o Pará, onde o pai trabalhou na extração de borracha, em Fordlândia. Aos 11 anos, retornou à terra natal em 1945, com sua mãe e irmãos, decidindo mudar-se sozinho para São Paulo em 1951, na busca de sobrevi- vência e apoio à família. Nos primeiros tempos na capital paulista, chegou a dormir em bancos de jardim no Largo da Concórdia.
Operário da Nitroquímica, importante indústria do Grupo Votorantim em São Miguel Paulista, zona leste da cidade, filiou-se ao PCB em 1957, tornou-se membro da diretoria do Sindicato dos Químicos e Farmacêuticos de São Paulo, e liderou uma forte mobilização grevista naquela empresa em 1963. Foi preso em 1964, permanecendo detido por quatro meses. Perseguido pela sua militância, não conseguia ser readmitido nas fábricas. Próximo a Carlos Marighella, acompanhou esse dirigente comunista no rompimento com o PCB em 1967, sendo enviado a Cuba para treinamento de guerrilha, segundo várias anotações constantes de sua biografia. Com o nome de guerra Jonas, dirigiu o Grupo Tático Armado da ALN e era acusado pelos órgãos de segurança de participação em ações armadas que resultaram em mortes.
Foi preso no dia 29/09/1969, na Avenida Duque de Caxias, em São Paulo, por agentes da OBAN, poucas semanas após ter comandado, no Rio de Janeiro, o seqüestro do embaixador norte-americano no Brasil, operação guerrilheira que representou forte derrota para o regime militar, levando-o a desencadear violenta escalada repressiva em resposta. No dia anterior, fora preso seu irmão, Francisco Gomes da Sil- va. No mesmo dia 29, a polícia também deteve, num sítio em São Sebastião, litoral paulista, sua mulher Ilda e três de seus quatro filhos: Wladimir, com 8 anos, Virgílio, com 7, e Maria Isabel, um bebê de quatro meses. Gregório, que tinha dois anos, não foi levado por não estar na casa. Ilda permaneceu presa por nove meses, sendo que incomunicável, sem qualquer notícia dos filhos durante a metade desse tempo. Depois da OBAN, foi levada para o DOPS e, por último, esteve no Presídio Tiradentes. As crianças foram enviadas por dois meses ao Juizado de Menores, onde a menina sofreu grave desidratação.
Virgílio chegou à OBAN encapuzado, por volta de 10:30, e morreu 12 horas depois. Francisco, o irmão, foi informado da morte pelo capitão Albernaz. O preso político Celso Antunes Horta viu o corpo na cela. Outros presos políticos foram informados da morte de Virgílio. Mas a informação oficial dos órgãos de segurança a partir desse dia foi sempre no sentido de que Virgílio estava foragido.
A denúncia de seu assassinato foi feita em depoimentos na Justiça Militar e em documentos elaborados pelos presos políticos. Segundo eles, Virgí- lio morreu nas mãos de torturadores liderados pelo major Inocêncio F. de Matos Beltrão e pelo Major Valdir Coelho, chefes da OBAN. Participaram também os capitães Benone Arruda Albernaz, Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, Maurício Lopes Lima, Homero César Machado - capitão conhecido como “Tomás”, da PM-SP - delegado Octávio Gonçalves Moreira Jr., sargento da PM Paulo Bordini, agentes policiais Maurício de Freitas, vulgo “Lunga- retti”, Paulo Rosa, vulgo “Paulo Bexiga” e um agente da Polícia Federal conhecido como “Américo”.
Na busca de esclarecimento, os familiares foram reunindo, ano a ano, cada uma das informações que terminaram comprovando as verdadeiras circunstâncias de sua morte. Nos arquivos do DOPS/PR, seu nome constava de uma gaveta de “falecidos”. No encaminhamento no 261 do SNI, de 31/10/1969, lê-se: “Virgílio Gomes da Silva - ‘Jonas’, falecido por resistir à prisão”. Em sua ficha nos arquivos do DOPS/SP está escrito, à máquina, ao lado do seu nome, entre parênteses: “morto”. Um relatório da Marinha, de 1993, solicitado pelo ministro Maurício Corrêa, reconhece a morte, mas com falsa versão: “morreu em 29 de setembro de 1969, ao reagir à bala quando de sua prisão em um aparelho”.
Novas informações surgiram com a abertura da Vala de Perus, em 1990 e o acesso aos arquivos do IML/SP. A Comissão de Familiares tentou resgatar, no Cemitério de Vila Formosa, o corpo enterrado através da requisição de exame identificada com o no 4059/69. Tratava-se do corpo de um desconhecido enterrado como indigente na data do desaparecimento de Virgílio, com suposta procedência da 36a DP – sede da OBAN. As buscas foram infrutíferas, por não existir um mapa das quadras na época por ter sido plantado um bosque no local.
Somente em 2004 a verdade sobre o destino de Virgílio foi confirmada por documentos oficiais. O jornalista Mário Magalhães, ao pesquisar o arquivo do DOPS, localizou o laudo e a foto do corpo de Virgílio. Enterrado como desconhecido sob o no 4059/69, anteriormente pesqui- sado, o corpo fora identificado.
O laudo assinado por Roberto A. Magalhães e Paulo A. de Queiroz Rocha descreve escoriações em todo o rosto, braços, joelhos, punho direito e ainda equimoses no tórax e abdômen, hematomas intensos na mão direita e na polpa escrotal. Internamente registraram hematoma intenso e extenso na calota craniana, fratura completa com afundamento do osso frontal, hematomas em toda a superfície do encéfalo, hematoma intenso no tecido subcutâneo e muscular da sétima à décima-primeira costelas esquerdas, fratura completa da oitava, nona e décima costelas direitas. A morte, que concluem ter sido em conseqüência de traumatismo crânio-encefálico, causado por instrumento contundente, não teria sido causada por tortura, como fizeram questão de registrar os legistas, interessados em homologar a versão oficial dos órgãos de segurança.
A identificação foi feita através das digitais. O texto é assinado pelo delegado Emílio Mattar e pelo agente Gilberto da Cruz, da Divisão de Identi- ficação Civil e Criminal da Secretaria de Segurança Pública, sendo que o delegado Mattar era o diretor do órgão que identificou o cadáver desco- nhecido como sendo o de Virgílio. Junto aos documentos, um bilhete escrito à mão arbitra o desaparecimento: Não deve ser informado.
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