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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: ALDO DE SÁ BRITO SOUZA NETO
 
ALDO DE SÁ BRITO SOUZA NETO

Nome: ALDO DE SÁ BRITO SOUZA NETO

Pai: Aldo Leão de Souza

Mãe: Therezinha Barros Câmara de Souza

Idade quando desaparecido:

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
225/96
Nome
ALDO DE SÁ BRITO SOUZA NETO
Data de Nascimento
20/01/1951
Municipio de Nascimento
Rio de Janeiro (RJ)
Status
Morto
Biografia

 

Morto em Belo Horizonte poucas semanas antes de completar 20 anos, Aldo nasceu no Rio de Janeiro, sendo criado pela avó, Mercedes Barros Câmara, desde o falecimento da mãe, quando tinha 11 anos. Concluiu o curso ginasial no Colégio Santo Inácio e fez o científico no Colégio Mallet Soares, no Rio de Janeiro. Iniciou a militância política na ALN aos 17 anos e chegou ao comando regional da organização. Os órgãos de segurança o acusavam de participação em várias ações armadas no Rio de Janeiro, incluindo um assalto a banco em que um guarda foi morto.

 

Nos dias em que se arrastavam as tensas negociações entre o regime militar e os seqüestradores do embaixador suíço no Brasil, Aldo foi preso em 06/01/1971, após um assalto praticado pela ALN a uma agência do Banco Nacional no centro de Belo Horizonte. Testemunhas da prisão, Marcos Nonato da Fonseca e Manoel José Nunes Mendes de Abreu, mortos posteriormente, relataram, à época, o ocorrido. Os três fugiam à perseguição dos órgãos policiais, quando Aldo caiu ao tentar pular de um prédio para outro, sendo preso imediatamente, no bairro Floresta. No dia seguinte, os jornais publicaram a notícia da prisão de Aldo, mas com foto de outra pessoa.

 

Munida de uma apresentação do primo, o cardeal do Rio de Janeiro Dom Jayme de Barros Câmara, para o Arcebispo de Belo Horizonte, Dom João Resende Costa, a avó de Aldo chegou à capital mineira no mesmo dia, já alertada sobre a prisão do neto. Dom Serafim, bispo auxiliar, acompanhou Mercedes até o DOPS/MG, onde lhe informaram que o preso havia sido transferido para Juiz de Fora, mas que dentro de dois dias retornaria a Belo Horizonte, quando então, poderia vê-lo. No aeroporto, Mercedes viu os jornais com a notícia da morte do neto. Levada ao necrotério, o corpo que lhe mostraram não era dele. Dois dias depois, voltou a Belo Horizonte com o pai de Aldo, quando lhe confirmaram que Aldo estava morto.

 

Nos autos do processo junto à CEMDP, há registros de que Aldo foi morto com o instrumento de tortura denominado “coroa de cristo”, fita de aço que gradativamente esmaga o crânio. Não há fotos de seu corpo, mas a família constatou o afundamento no crânio. O exame necroscópico, realizado no IML/MG, dia 07/01/1971, pelos legistas Neyder Teixeira e Vera Lúcia Junqueira Monteiro de Barros, confirma a falsa versão oficial de que Aldo morrera durante tiroteio. A certidão de óbito, firmada por um médico que não participou da necropsia, Djezzar Gonçalves Leite, informa que Aldo faleceu no Hospital Militar por “fratura do crânio com hemorragia cerebral”. Depoimentos feitos por outros presos políticos da época denunciam como assassinos de Aldo o tenente Marcelo Paixão, do CPOR, o capitão Pedro Ivo e o delegado Renato Aragão.

 

O relatório da CEMDP afirma que as circunstâncias da prisão e morte de Aldo, tal como divulgadas pela imprensa na época, revelam mais uma farsa montada pelos órgãos de segurança para encobrir a violência e as torturas praticadas contra os presos políticos. Os jornais do dia 08/01/71 noticiaram o assalto ao banco, ocorrido dois dias antes, realizado por cinco pessoas, relatando a prisão de duas, a morte de uma e a fuga de outras duas. Informavam ainda que, em benefício das investigações, os nomes seriam mantidos em sigilo e que fora confirmada a identidade do assaltante morto no dia anterior, cujo corpo fora removido ao IML. De acordo com essa versão, o morto seria Fernando Araújo Barcelar, que caíra do terceiro andar de um prédio ao tentar fugir. Com a queda, teria quebrado a bacia e morrido no Hospital Militar, onde havia chegado semiconsciente, dizendo chamar-se “Haroldo”. Os outros dois presos, cujas fotos e nomes não foram divulgados, estariam no DOPS.

 

No dia seguinte, as manchetes dos jornais informaram a prisão de Aldo, que teria ocorrido quando do estouro de um aparelho subversivo. Numa entrevista coletiva à imprensa, o delegado do DOPS Renato Divani Aragão disse que Aldo era um homem forte da ALN, sendo interrogado naquele momento - 15h30min –, mas não permitiu fotos e contato dos repórteres com ele. As operações estavam sendo coordenadas pelo DOI-CODI. Nessa farsa, o homem forte da ALN tinha 19 anos e estava preso, mas Fernando Araújo Barcelar (sua identidade falsa), que caíra de um prédio, estava morto e aguardava que alguém procurasse seu corpo. A PM montava guarda defronte ao Departamento de Medicina Legal. Diziam pretender descobrir parentes e amigos do morto e impedir que seu corpo fosse resgatado por grupos subversivos. Se Aldo ainda estava vivo naquele momento, não foi possível descobrir.

 

No dia 14, com a libertação dos 70 presos políticos enviados ao Chile em troca do embaixador suíço, os jornais voltaram ao caso. Em nota oficial, o CODI/MG informou que o terrorista morto ao tentar escapar do cerco policial, jogando-se do 3º andar de um edifício, tinha somente aquele dia sido reconhecido oficialmente pelos órgãos de segurança e por familiares como sendo Aldo de Sá Brito Souza Neto. O comunicado oficial explicava que a afirmação anterior sobre a captura de Aldo, feita na coletiva de imprensa no DOPS, era apenas uma manobra de contra-informação dos órgãos de segurança, a primeira etapa de um plano organizado para levar pânico aos “homens do terror em liberdade”.

Local de morte/desaparecimento
ALN
Organização política ou atividade
ALN
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
AT0.04.03
Resultado do julgamento
Deferido
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