Nome: Luiz Ghilardini
Pai: Gino Ghilardini
Mãe: Ercília Ghico
Idade quando desaparecido:
Membro da Executiva do Comitê Central do PCdoB, foi morto no DOI-CODI/RJ em 05/01/1973. Ingressou no Partido Comunista em 1945, na cidade de Santos (SP), onde mantinha atuação sindical junto aos portuários. Em 1953, transferiu-se para o Rio de Janeiro e se tornou membro do Comitê dos Marítimos, importante organismo partidário naquele período. Foi operário naval, ferreiro e posteriormente jornalis-ta. Seus direitos políticos foram cassados em 23/05/1966.
No dia 04/01/1973, sua casa foi invadida por 13 homens armados. Sua esposa Orandina e seu filho de oito anos, Gino, foram encapuzados e presos. As violências e espancamentos já tiveram início dentro da casa. Na última vez que ela viu o marido Ghilardini estava de costas, as mãos amarradas com uma borracha, tendo os braços roxos.
O filho Gino relatou mais tarde: “nós fomos levados para uma prisão que não sei onde era; só sei que ficava no subsolo. Chegando lá me tiraram de perto de minha mãe e, encapuzado ainda, fui levado a uma sala, onde começaram a fazer perguntas. Perguntavam se o meu pai viajava e o que ele fazia. E eu, muito assustado, nada respondia; mas eu ouvia meu pai ali perto gemendo, eu escutava, mas não podia fazer nada. Só sei que sentia muito medo”. Orandina foi interrogada diariamente e cerca de nove dias após sua prisão soube que o marido estava morto. Foi libertada três meses depois e só então reencontrou o filho.
Pela versão oficial dos órgãos de segurança, o corpo de Luiz – encontrado nas Ruas Girapimirim com Turvânia (RJ) – entrou no IML em 05/01/1973, com a Guia n° 14 do DOPS, como desconhecido, descrito apenas como “morto quando reagiu às Forças de Segurança”. Sua necropsia, realizada no mesmo dia, foi assinada pelos legistas Salim Raphael Balassiano e Rubens Pedro Macuco Janini, que confirmaram a morte em tiroteio, embora tenham registrado que “o membro superior direito exibe sinais de lesões violentas”.
Além de se apoiar no depoimento dos familiares, a CEMDP se baseou também nos documentos oficiais produzidos acerca de sua morte, para contestar a versão de que o dirigente comunista morrera em tiroteio. As fotos de perícia do local, do Instituto Carlos Éboli, mostram os pulsos de Luiz com claros sinais de algemas ou fios. Laudo de perícia afirma não haver arma de fogo no local e que “nos pulsos da vítima havia sinais recentes de ferimentos produzidos por algo que os prenderam. Os ferimentos embora superficiais faziam-se notar nitidamente”. Informa ainda que Luiz estava vestido com “camisa esporte azul clara e calça azul sobre cueca branca e sapato azul e branco”. Sua esposa afirma que ele foi preso com bermudas e chinelos, mas os agentes que o levaram pegaram um terno azul de linho, camisa e sapatos.
Foi reconhecido oficialmente no mesmo dia, pelo Serviço de Identificação do Instituto Félix Pacheco/RJ e no dia seguinte o cadáver foi enterrado, em seu nome verdadeiro, como indigente no Cemitério Ricardo de Albuquerque (RJ). Em 20/03/1978, seus restos mortais foram transferidos para um ossuário geral e, entre 1980 e 1981, enterrados numa vala clandestina com cerca de duas mil outras ossadas.
A certidão de óbito é assinada pelo segundo legista, Rubens Pedro Macuco Janini, e não pelo primeiro como ocorre normalmente. Tem como declarante José Severino Teixeira. Foram emitidas duas certidões de óbito para Ghilardini, com diferentes datas para o dia da morte: a de nº 17-117, do dia 06/02/1973, declara que morreu no dia 01/01/1973, a outra, de nº 17 119, com data de 23/03/1973, informa que o dia da morte foi 04/01/1973.
O processo foi deferido pela CEMDP por unanimidade, sendo esse mais um dos casos reveladores de que, naquele início de 1973, o sentimento de impunidade vivido pelos porões do regime militar já atingia um grau de degeneração suficiente para que as versões farsantes sobre fugas, atropelamentos, suicídios e mortes em tiroteio, não cuidassem mais de apagar as impressões digitais deixadas nas contradições gritantes dos próprios laudos forjados.
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