Nome: Lourenço Camelo de Mesquita
Pai: Francisco Camelo de Mesquita
Mãe: Maria Aguida de Mesquita
Idade quando desaparecido:
Este caso refere-se a mais um episódio de suicídio por enforcamento, o último de uma longa série de versões farsantes que os órgãos de segurança do regime militar divulgaram tentando encobrir as reais condições da morte de presos políticos. O jornalista Elio Gaspari cuidou de contar e informa que o pretenso suicídio de Lourenço foi o 41º suicídio alegado, o 20º enforcamento, o 11º sem vão livre.
Na cópia da cédula de identidade de Lourenço, anexada aos autos do processo formado na CEMDP, consta apenas Ceará como local de nascimento. Viveu 15 anos com Dalva Soares Pereira, com quem teve dois filhos. Na versão militar, ele foi encontrado morto, às 8h20 do dia 30/07/1977, na cela nº 1 do pavilhão de presídio da 1ª Companhia de Polícia do Exército, no Rio de Janeiro.
Já na certidão de óbito está escrito que Lourenço morreu às 12h, tendo como causa mortisasfixia mecânica por enforcamento. O necroscópico foi firmado por Roberto Blanco dos Santos e Amadeu da Silva Lopes. A versão oficial é de que teria se enforcado, “sendo encontrado com um laço no pescoço, formado por uma cueca preta de nylon – tipo zorba, com a outra extremidade presa ao registro da descarga do vaso sanitário, no qual o extingo se achava sentado”.
Seu nome nunca tinha surgido antes em qualquer lista de mortos e desaparecidos políticos. Não constava também do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos. A CEMDP enviou ofício solicitando informações à Polícia do Exército do Rio de Janeiro a respeito do motivo da prisão de Lourenço, mas não obteve resposta. Ao Arquivo do DOPS/RJ foram solicitadas informações, mas nada foi encontrado. Sendo assim, o deputado Nilmário Miranda, que examinava o caso por ter pedido vistas do processo após uma primeira manifestação do relator favorável ao indeferimento, colheu depoimentos de alguns companheiros de Lourenço, que deixaram clara a motivação política da prisão e os vínculos que mantinha com o PCB. Em seu voto, o deputado deu destaque ao depoimento de Berenício Ferreira Pessoa:
“Berenício declarou que era militante do PCB desde 1958; que morou em Caxias por mais de 30 anos; que esteve preso após o golpe militar por cerca de 90 dias, de onde saiu quase morto, acometido por uma crupe.(...);que foi dirigente do PCB e militava no Comitê do Partido na Estação Ferroviária Leopoldina. Conheceu Lourenço Camelo de Mesquita por volta de 1960, já como militante do PCB. Lourenço militava no Comitê Municipal de Duque de Caxias e ele, Berenício, no Comitê da Leopoldina. Que em 1962 houve um quebra-quebra em Caxias e que os 2 Comitês se reuniram conjuntamente para analisar e tomar posição sobre os incidentes. Que a partir de então, 1962, tornou-se amigo do ‘China”; que ‘China’ era taxista, que militava entre motoristas de coletivos e entre taxistas. Que ‘China’ era muito conhecido pela sua militância; que em 1977 já estava morando de novo em Duque e trabalhava como representante de persianas. Neste ano houve greves de condutores rodoviários em Duque de Caxias e que o ‘China’ assinou e lançou manifestos na cidade. Certo dia chegou em casa e sua mulher disse-lhe: ‘Cuidado! O China foi sequestrado hoje pela polícia. O próximo é você!’ Depois quando veio a notícia de sua morte, ninguém acreditou em suicídio. Todos diziam: ‘mataram o China’, exatamente porque era um veterano comunista, um ativista conhecido”. diziam: ‘mataram o China’, exatamente porque era um veterano comunista, um ativista conhecido”. diziam: ‘mataram o China’, exatamente porque era um veterano comunista, um ativista conhecido”
Nilmário Miranda, ao apresentar seu parecer, considerou “a descrição das circunstâncias do ‘suicídio’ grosseira e absolutamente inverossímil”. Concluiu que foram falsificadas as circunstâncias de sua morte e que esta se deu sob inteira responsabilidade do Estado.
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