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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: JOSÉ JULIO DE ARAÚJO
 
JOSÉ JULIO DE ARAÚJO

Nome: JOSÉ JULIO DE ARAÚJO

Pai: José Araújo

Mãe: Maria do Rosário Correa Araújo

Idade quando desaparecido: 29 anos

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
032/96
Nome
JOSÉ JULIO DE ARAÚJO
Data de Nascimento
22/07/1943
Municipio de Nascimento
Itapecerica (MG)
Status
Desaparecido
Biografia
Nascido em Itapecerica (MG), foi um dos organizadores, em 1967/1968, da Corrente de Minas Gerais, organização que mais tarde se incorporou à ALN. Em sua cidade natal, onde o pai era comerciante, estudou no Colégio Herculano Paz. Com a mudança de sua família para Belo Horizonte, José Júlio estudou no Grupo Escolar Cesário Alvim e no Colégio Anchieta. Aos 14 anos começou a trabalhar no Banco da Lavoura de Minas Gerais, passando a militar muito cedo no PCB. Ao sair do Banco da Lavoura, com 20 anos, foi trabalhar na Socima, empresa de atacados onde seu pai era um dos sócios.

Em 1968, em função de perseguições políticas, José Júlio viajou para São Paulo, onde passou a viver e atuar na clandestinidade. Seguiu para Cuba e lá recebeu treinamento militar em 1969. Residiu um ano no Chile antes de retornar ao Brasil. Na última carta que escreveu para a mãe, em abril de 1971, além de reafirmar o amor pela família, pedia aos irmãos Vinicius e Márcio que visitassem os companheiros que estavam presos em Juiz de Fora, levando-lhes cigarros e doces.

José Júlio retornou clandestinamente ao Brasil num período em que a política de eliminação física dos militantes já estava evidente, atingindo especialmente os que retornavam de Cuba. Foi preso em companhia de sua companheira Valderez Nunes Fonseca, no dia 18/08/1972, em um bar do Largo Ana Rosa, na Vila Mariana, em São Paulo, pela equipe C do DOI-CODI. A versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança é de que teria sido baleado e morto em uma esquina da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, para onde teria levado os agentes com a informação de que haveria ali um encontro com companheiros. Chegando ao local, conseguiu apoderar-se da arma de um segurança bancário ou de um dos agentes, existindo as duas versões na imprensa, sendo morto no tiroteio que se seguiu.

O laudo necroscópico, mais uma vez assinado por Isaac Abramovitc e também por José Henrique da Fonseca, descreve quatro tiros: no lábio, no ombro direito, na cabeça e no peito, sendo os dois últimos com trajetória de cima para baixo.

Valderez sobreviveu à prisão e testemunhou por escrito que, no DOI-CODI de São Paulo, ela e José Júlio foram colocados em celas diferentes. Na primeira fase de seus interrogatórios, os agentes queriam unicamente saber informações sobre José Júlio. Na madrugada do dia seguinte, Valderez foi transferida para uma sala onde estavam todas as roupas com as quais José Júlio havia sido preso, ensangüentadas, algumas rasgadas, e nada mais lhe foi perguntado a respeito dele. José Júlio foi enterrado como indigente no cemitério de Perus.
Sua família viveria ainda outra tragédia, só conhecida em toda sua extensão 20 anos depois, quando um encanador, que era também informante policial e fazia serviços na casa da mãe de José Júlio, em Belo Horizonte, denunciou à polícia o encontro de uma caixa com ossos humanos no sótão da residência. Foi aberto inquérito contra a mãe e a irmã de José Júlio, por ocultação de cadáver, e mais um capítulo doloroso na vida dessa família foi tornado público.

Márcio, psiquiatra, o irmão que fisicamente mais se assemelhava a José Júlio, viajou para São Paulo em agosto de 1975, obedecendo o prazo estabelecido pelo cemitério para recuperar os restos mortais no Cemitério Dom Bosco, em Perus. Havia adquirido uma sepultura no Cemitério da Lapa, também em São Paulo, onde pretendia realizar o enterro do irmão. Mas sua dor e sua ligação com José Júlio eram tão fortes, que não conseguiu separar-se do que restara dele. Levou a caixa de madeira com os restos mortais do irmão para Belo Horizonte e a escondeu no sótão da casa, sem contar a ninguém.

Acometido de profunda crise depressiva, Márcio suicidou-se no ano seguinte, 1976. Após a morte de Márcio, a mãe, desconfiada do caixote no sótão, guardado com tanto cuidado, descobriu os ossos de José Júlio e optou por manter o segredo, já que não dispunha de qualquer documento sobre o ocorrido para que pudesse oficializar o enterro. Somente após os exames periciais e o resgate público da história, o inquérito foi encerrado e José Júlio sepultado, em 6/12/1993, no Cemitério Parque da Colina. Esse exame pericial contribuiu, entretanto, para refutar definitivamente a falsa versão divulgada em 1972. Os legistas mineiros descreveram a trajetória de uma bala no crânio que não seria compatível com a descrição de que José Júlio fugia em ziguezague, sendo mais indicativa de um tiro de misericórdia.

No processo formado junto à CEMDP, todos os integrantes do colegiado acompanharam o voto do relator a favor do  deferimento do caso.
Local de morte/desaparecimento
São Paulo (SP)
Organização política ou atividade
ALN
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Resultado do julgamento
Deferido
Data da publicação no DOU
12/02/1996
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