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ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO
 
GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO

Nome: GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO

Pai: João Beltrão de Castro

Mãe: Zoraide de Carvalho Beltrão

Idade quando desaparecido: 22 anos

Dôssie
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Procedimento administrativo CEMDP
0238/96
Nome
GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO
Data de Nascimento
12/01/1950
Municipio de Nascimento
Coruripe (AL)
Status
Morto
Biografia

 

Trata-se de mais um caso em que o trabalho da CEMDP conseguiu comprovar a falsidade da versão oficial, que prevaleceu durante muitos anos e indicava a morte de Gastone em tiroteio com a polícia. Na verdade, foi executada depois de presa. Alagoana de Coruripe, Gastone manifestou desde jovem preocupação com as desigualdades sociais e, ainda adolescente, visitava os presos comuns levando-lhes roupas e alimentos. Estudou nos colégios Imaculada Conceição e Moreira e Silva, em Maceió, e concluiu o 2º grau no Rio de Janeiro, onde moravam seus avós.

 

Em 1968, de volta a Maceió, prestou vestibular para Economia na Universidade Federal de Alagoas, entrando em 3º lugar. A partir de então, sua militância política se tornou mais efetiva, inicialmente na JUC – Juventude Estudantil Católica. Em 1969, já integrada à ALN, viajou para Cuba, onde recebeu treinamento militar. Foi localizada e morta em São Paulo, pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, quando tinha retornado ao Brasil há menos de um mês.

 

Apenas dois meses depois a mãe de Gastone, Dona Zoraide, e seu pai, o médico sanitarista João de Castro Beltrão, receberam de uma freira a informação de que algo acontecera à filha. Dona Zoraide foi imediatamente ao DOPS paulista e, após muito insistir, conseguiu falar com o delegado Fleury, que inicialmente dizia não se lembrar do caso, mas acabou por lhe dizer que a filha era uma moça muito corajosa e forte, e que resistira até a última hora. Gastone tinha sido enterrada como indigente. Foi preciso esperar três anos para que o traslado fosse realizado para Maceió, estando seus restos mortais sepultados hoje na tumba da família Beltrão, no Cemitério Nossa Senhora da Piedade.

 

Após a abertura de acesso aos arquivos do IML e da polícia técnica de São Paulo, foi possível começar a reconstruir a verdadeira história de sua morte a partir das contradições e omissões dos próprios documentos oficiais. A requisição de exame ao IML e a necropsia registram que Gastone morreu em tiroteio na esquina das ruas Heitor Peixoto e Inglês de Souza, em São Paulo. Assinam o laudo necroscópico os legistas Isaac Abramovitc e Walter Sayeg. Gastone deu entrada no IML às 15h30 do dia 22/01/72. Suas vestes e objetos – anota a requisição de exame – foram entregues ao “Sr. Dr. Fleury”.

 

Por solicitação da CEMDP, o processo de Gastone foi submetido a exame pelo perito criminal Celso Nenevê. Pela análise das fotografias, que o deixaram perplexo pelo absurdo número de ferimentos, ele constatou que Gastone tinha 34 lesões enquanto o laudo oficial descrevia 13 ferimentos a bala com os respectivos orifícios de saída. O perito se concentrou em duas lesões, uma na região mamária e outra na região frontal. Ampliou a foto da ferida na região mamária em 20 vezes. Abramovitc descrevera a lesão como resultante de ‘tangenciamento de projétil de arma de fogo’.

 

Nenevê concluiu que, ao invés de tiro, tratava-se de uma lesão em fenda, produzida por faca ou objeto similar. E agregou que, dado o formato em meia-lua, o ferimento fora produzido com o braço levantado. A lesão estrelada na região frontal indica que o tiro foi disparado com a arma encostada, de cima para baixo. Além das contradições anteriores, essas duas lesões são totalmente incompatíveis com a versão de tiroteio. A lesão produzida por faca ou objeto similar requer a proximidade entre agressor e vítima. O tiro com arma encostada na testa indica execução. Nenevê concluiu seu parecer afirmando que, considerando a requisição de exame ao IML e o relatório do local, onde é explicitado “violento tiroteio” em alusão ” às circunstâncias em que a vítima fora ferida e, considerando que, no laudo de exame cadavérico, o legista constata “fratura de cúbito e rádio esquerdos, ossos do punho esquerdo e do terço superior do úmero direito”, entendeu o perito que tanto o relatório de local como o laudo médico legal, não estabelecem pormenores que possibilitem compatibilizar as lesões descritas para o cadáver com as circunstâncias em que fora travado o aludido tiroteio. Salientou que Gastone, a partir do momento em que teve os membros superiores inabilitados, não podia oferecer resistência armada.

 

As circunstâncias da morte não puderam ser restabelecidas com clareza até hoje, mas a CEMDP reconheceu por decisão unânime que Gastone Lúcia Carvalho Beltrão, com estatura de apenas 1.55m, cujo cadáver mostrava 34 lesões, na maioria tiros, mas também facada, marca de disparo à queima-roupa, fraturas, ferimentos e equimoses pelo corpo inteiro, não morrera no violento tiroteio alegado pelo DOPS e pelos documentos do IML e IPT. E sim depois de presa pelos agentes dos órgãos de segurança.

 

Local de morte/desaparecimento
São Paulo (SP)
Organização política ou atividade
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Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
AT0.36.01 - pg.153
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