esqueceu sua senha?

ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: MARIA AUXILIADORA LARA BARCELLOS
 

Nome: MARIA AUXILIADORA LARA BARCELLOS

Pai: Waldemar de Lima Barcelos

Mãe: Clélia Lara Barcellos

Idade quando desaparecido:

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
114/04
Nome
MARIA AUXILIADORA LARA BARCELLOS
Data de Nascimento
25/03/1945
Municipio de Nascimento
Antônio Dias (MG)
Codinome(s)
Dora ou Dorinha
Status
Morto
Biografia

 

Maria Auxiliadora atirou-se nos trilhos de um trem na estação de metrô Charlottenburg, em Berlim, Alemanha Ocidental, em 01/06/1976, tendo morte instantânea. Conhecida pelos amigos como Dora ou Dorinha, tinha sido presa sete anos antes, no dia 21/11/1969, junto com seus companheiros da VAR-Palmares, Antônio Roberto Espinoza e Chael Charles Schreier, na casa em que moravam no bairro do Méier, no Rio de Janeiro. Os três foram torturados no quartel da Polícia do Exército, na Vila Militar, e Chael morreu em menos de 24 horas.

 

Dora foi vítima de cruéis torturas e passou pelos presídios de Bangu, no Rio de Janeiro, e Linhares, em Juiz de Fora. Foi banida e enviada para o Chile com outros 69 presos políticos no dia 13/01/1971, no episódio do sequestro do embaixador suíço no Brasil. Nunca mais conseguiu se recuperar plenamente das profundas marcas psíquicas deixadas pelas sevícias e violências de todo tipo a que foi submetida. Durante o exílio registrou num texto recheado de tons literários suas duras memórias: “Foram intermináveis dias de Sodoma. Me pisaram, cuspiram, me despedaçaram em mil cacos. Me violentaram nos meus cantos mais íntimos. Foi um tempo sem sorrisos. Um tempo de esgares, de gritos sufocados, um grito no escuro”.

 

Mineira de Antônio Dias, Maria Auxiliadora era filha de um agrimensor e, por isso, passou a infância morando em várias cidades no interior de Minas Gerais. Estudou no Colégio Estadual Nossa Senhora de Fátima, em Belo Horizonte e, quando criança, pensou em ser freira. Despertou muito cedo para as questões sociais e lecionou durante dois anos na escola de uma favela. Em 1965, começou a cursar Medicina na UFMG e, ainda estudante, deu plantões na área de psiquiatria no Hospital Galba Veloso e no Pronto Socorro. Participou das mobilizações estudantis de 1968. Após o AI-5, já militante do Colina, que se transformaria logo depois em VAR-Palmares, deixou o quinto ano de Medicina e mudou-se para o Rio de Janeiro, em março de 1969, passando a atuar na clandestinidade.

 

Durante a permanência no Chile, tentou tratar-se das seqüelas das torturas. Após setembro de 1973, com a queda de Salvador Allende, conseguiu asilo na embaixada do México, onde trabalhou como intérprete até seguir para a Europa, através da Cruz Vermelha. Passou pelo México, pela Bélgica e pela França, chegando à Alemanha em 10/02/1974. Nesse país, conseguiu uma bolsa para completar seu curso de Medicina. Pouco antes de concluir os estudos, foi internada para tratamento psiquiátrico.

 

Quando depôs na Justiça Militar do Rio de Janeiro, em 27/05/1970, Maria Auxiliadora denunciou detalhadamente as brutalidades que ela e seus dois companheiros sofreram na Polícia do Exército. Consta de seu depoimento na 2ª Auditoria da Marinha que “foi presa no dia 21/11; estavam juntos a declarante, Antônio Roberto e Chael (...), presos em casa, por uma turma mista, composta por elementos do DOPS e da PE; foram conduzidos ao DOPS, onde se procederam as providências de rotina; se encontravam os três numa sala, de onde Chael foi chamado para dirigir-se a uma sala ao lado, onde ele foi espancado, ouvindo a declarante seus gritos; (...) na sala foram tirando aos poucos sua roupa; que um policial, entre palavras de baixo calão, proferidos por outros, ficou a sua frente como se mantivesse relações sexuais com a declarante, ao tempo que tocava seu corpo, que esta prática perdurou por duas horas; o policial profanava os seus seios e usando uma tesoura, fazia como se fosse seccioná-los; entre semelhante prática, sofreu bofetadas; (...) pelas quatro horas da madrugada, Chael e Roberto saíram da sala onde se encontravam, visivelmente ensangüentados, inclusive no pênis, na orelha e ostentando corte na cabeça; nessa mesma madrugada foram transferidos para a PE, (...); nesta unidade do Exército, os três foram colocados numa sala, sem roupas; primeiro chamaram Chael e fizeram-no beijar a declarante toda, e em seguida chamaram Antônio Roberto para repetir esta prática (...); depois um indivíduo lhe segurou os seios, apertando-os, enquanto outros torturadores lhe machucavam; em seguida prosseguiram as torturas, através de choques; (...) foi levada para a 1ª Cia. de Intendência, onde saía para prestar depoimentos perante muita gente; continuou apanhando, embora com um cunho psicológico, torturas físicas suportáveis; o Cap. Guimarães apertou o seu pescoço dizendo que iria enforcá-la (...)”.

 

Maria Auxiliadora denunciou as torturas sofridas e o assassinato de Chael, e, respondendo a outro processo em São Paulo, declarou em 17/11/1970, frente ao Conselho Especial de Justiça do Exército, reunido na 1º Auditoria: “(...)perguntada se tem outras declarações a fazer, respondeu afirmativamente e declarou (...) que não cometeu crime algum (...) nem eu, nem qualquer indiciado em outra organização, pois os verdadeiros criminosos são outros; se há alguém que tenha que comparecer em Juízo esse alguém são os representantes desta ditadura implantada no Brasil, para defender interesses de grupos estrangeiros que espoliam as nossas riquezas e exploram o trabalho do nosso povo; (...) além desses crimes, o crime de haver torturado até a morte brasileiros valorosos como João Lucas, Mário Alves, Olavo Hansen e Chael Charles, (...)”

 

O caso foi apresentado à CEMDP após a ampliação dos critérios da Lei nº 9.140/95, que na redação dada pela Lei nº 10.875, de 2004, passou a contemplar as mortes ocorridas em anos posteriores às torturas, quando comprovado que foram em decorrência de suas seqüelas.

 

Em São Paulo, encontra-se hoje em pleno funcionamento, na periferia leste da capital, Cidade Tiradentes, o Centro de Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva Maria Auxiliadora Lara Barcellos. Durante o exílio, seu companheiro de banimento Luiz Alberto Barreto Leite Sanz, hoje professor no Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, realizou um filme sobre o drama de Dorinha.

 

Fonte: Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. 1ª Edição. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007. p. 418

Local de morte/desaparecimento
Berlim Ocidental, Alemanha
Organização política ou atividade
VAR-Palmares
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
AT0.63.09
voltar
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Setor Comercial Sul - B, Quadra 9, Lote C, Edificio Parque Cidade Corporate, Torre "A", 10º andar, Brasília, Distrito Federal, Brasil CEP: 70308-200c

Atualize o Flash Player