Nome: HÉLCIO PEREIRA FORTES
Pai: José Ovídio Fortes
Mãe: Alice Pereira Fortes
Idade quando desaparecido: 24 anos
Nascido em Ouro Preto (MG), Hélcio passou a infância e a juventude em sua cidade natal. Desde muito cedo manifestou interesse pela história política e social do país, estando presente em todos os eventos e manifestações culturais de sua época. Habitualmente se reunia com um grupo de estudantes em torno do Grêmio Literário Tristão de Athayde (GLTA), em Ouro Preto.
Terminou o ginásio no Colégio Arquidiocesano, aos 13 anos de idade, ingressando na Escola Técnica Federal. Era um amante da literatura, cinema, teatro. Participava intensamente da vida de sua cidade, escrevendo em jornais, criando e difundindo peças teatrais, promovendo jograis. Foi redator do Jornal de Ouro Preto e da Voz do GLTA. Fundou o Cineclube de Ouro Preto. Ativista político, atuou na União Colegial Ouropretense e na Escola Técnica Federal. Ingressou na Escola de Metalurgia, mas não chegou a concluir o curso. Desde 1963 era ligado ao PCB, sendo considerado a principal liderança, tanto entre estudantes quanto entre os operários da metalúrgica Alcan. Logo após abril de 1964 passou a viver na clandestinidade, inicialmente em Belo Horizonte, onde integrou o Comitê Municipal do PCB.
Hélcio foi um dos principais dirigentes da Corrente/MG, que, após sofrer inúmeras prisões em 1969, se incorporaria à ALN. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde pertenceu ao comando regional dessa organização. Mesmo na clandestinidade, escrevia cartas à família, em que expressava sua saudade e as razões que o levaram a optar pela luta armada. Sua última mensagem foi no Natal de 1971. Em 22/01/1972, foi preso no Rio de Janeiro. Hélcio passou pelo DOI-CODI/RJ e foi levado para o DOI-CODI/SP. Os órgãos de segurança o acusavam de participação em várias ações armadas, inclusive de um assalto à Casa de Saúde Dr. Eiras, onde foram mortos três vigilantes de segurança.
A requisição de exame ao IML/SP informa que “após travar violento tiroteio com os agentes dos órgãos de segurança, foi ferido e, em conseqüência, veio a falecer”. Os legistas Isaac Abramovitc e Lenilso Tabosa Pessoa definiram como causa da morte anemia aguda traumática. A versão oficial distribuída à imprensa informava que ele tentara fugir dentro da rodoviária de São Paulo, morrendo ao resistir à prisão. No entanto, os documentos do IML e a certidão de óbito informam que o óbito ocorreu em outro local: Avenida Bandeirantes, esquina com Rua Jurupis.
A família tomou conhecimento da morte de Hélcio no mesmo dia, pela televisão, e imediatamente dirigiu-se a São Paulo. O corpo já estava enterrado no Cemitério de Perus. Somente em 1975 foi possível levar os restos mortais para Ouro Preto, onde Hélcio foi enterrado na Igreja São José.
Dentre os ferimentos descritos pelos legistas, um chama a atenção: orifício de entrada no canto externo do supercílio esquerdo e saída no ramo ascendente direito da mandíbula, após transfixar o olho esquerdo. Um tiro com tal trajetória, de cima para baixo, e ligeiramente de frente para trás, se disparado a média ou curta distância, caracteriza execução.
Além disso, consta no processo formado na CEMDP um depoimento de Darci Toshiko Miyaki, militante da ALN presa por agentes do DOICODI/RJ no Rio de Janeiro no dia 25/01/1972. Sob interrogatórios, Darcy calcula que foi no dia 27 que recebeu roupas e, encapuzada, soube que seria removida. Num corredor, pela costura esgarçada do capuz, viu Hélcio encostado na parede. Foram transportados na mesma viatura, Hélcio no chiqueirinho e ela entre o motorista e um agente, sendo conduzidos ao DOI-CODI/SP. Ali, foi colocada em uma cela isolada, no segundo andar, onde ficou por vários dias e dali ouviu os gritos de Hélcio. Sem saber precisar o dia, não mais foi conduzida à cela onde estava, mas a uma outra, com porta de ferro, sem luz e sem ventilação. Antes de ser colocada nessa solitária, ouviu do carcereiro que desse local havia saído um “presunto fresquinho”. Darcy tem plena convicção de que o corpo que havia sido retirado da solitária era o de Hélcio Pereira Fortes, pois a partir de então não mais ouviu os seus gritos.
Por último, foi localizado nos arquivos secretos do DOPS no Paraná um documento da Polícia Federal divulgando o conteúdo de um depoimento prestado por Hélcio, constituindo prova cabal de que esteve preso e foi mais um preso político executado. O requerimento do caso Hélcio foi aprovado por unanimidade na Comissão Especial.
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