Nome: HELBER JOSÉ GOMES GOULART
Pai: Geraldo Goulart do Nascimento
Mãe: Jandyra de Souza Gomes
Idade quando desaparecido: 29 anos
Militante da ALN, Helber adotava o nome de guerra Euclides e foi preso e morto pelos agentes do DOI-CODI/SP. Nota oficial dos órgãos de segurança informou que ele morreu em tiroteio, às 16h do dia 16/07/1973, nas imediações do Museu do Ipiranga, em São Paulo.
Nascido em Mariana, Minas Gerais, Helber estudou até a segunda série ginasial em sua terra natal, no Ginásio Dom Frei Manoel da Cruz, da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC). Começou a trabalhar muito cedo, aos 11 anos, entregando jornais; aos 13 anos, no escritório da fábrica de tecidos de Mariana; pouco depois como datilógrafo na Prefeitura. Mudou-se para São Paulo em 1961, com 17 anos, em busca de melhores condições de trabalho, permanecendo nessa cidade até 1963.Trabalhou como apontador na construção da hidrelétrica de Urubupungá, na divisa entre São Paulo e Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul), retornando a Mariana em 1968 e se mudando para Ouro Preto em 1969.
Interessado desde cedo nas questões políticas por influência do pai, militante comunista, passou a ser perseguido após abril de 1964 e respondeu a processo na Auditoria Militar de Juiz de Fora. Pertenceu ao PCB e chegou à ALN após ter se vinculado à Corrente. Em 1971, já atuando na clandestinidade, foi deslocado para São Paulo. A partir de então, os contatos com a família foram sendo feitos através de cartas e de raros encontros. Os últimos foram nos meses de março e junho de 1973, pouco antes de sua morte.
Documentos dos órgãos de segurança do regime militar informam que Helber escapou de ser preso, em 09/11/1972, quando ele e Aurora Maria Nascimento Furtado foram abordados numa blitz em Parada de Lucas, no Rio de Janeiro, sendo aquela militante presa após balear um policial da Invernada de Olaria, conforme já relatado neste livro. Esses documentos incluem também Helber como um dos participantes do assalto à Casa de Saúde Dr. Eiras, no Rio, em 02/09/1971, que deixou três vigilantes mortos.
Helber foi enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus (SP). Os restos mortais foram exumados e identificados por uma equipe da Unicamp. Trasladados para Mariana (MG) em 13/07/1992, foram sepultados no Cemitério de Santana após missa celebrada por Dom Luciano Mendes de Almeida, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
As provas que contestam a versão dos órgãos de segurança do regime militar foram encontradas nos próprios documentos oficiais. O atestado de óbito, assinado por Harry Shibata, registra que Helber morreu às 16h. Na requisição de exame ao IML, assinada pelo então delegado Romeu Tuma, consta também que ele morreu às 16h, mas no verso mostra que o corpo deu entrada no necrotério às 8h do mesmo dia. Oito horas, portanto, antes do horário da morte registrada na requisição de Romeu Tuma, e 3h30min antes de ser abordado por agentes de segurança nos jardins do Museu do Ipiranga, conforme divulgaram as autoridades.
Segundo o relator do processo na CEMDP Helber já estava morto no dia 16 de julho. O relator considerou que ele morreu antes das 8h da manhã, horário da entrada de seu corpo no necrotério. O laudo necroscópico descreve equimoses e registra que morreu por “choque hemorrágico oriundo de ferimento transfixante do pulmão no seu lobo inferior”. O relator observa que, dadas as características do ferimento, a trajetória do projétil foi de frente para trás, da esquerda para a direita e de cima para baixo. Como Helber media 1,88m, “o disparo só pode ter sido efetuado com o corpo caído ao chão”. Na foto em que ele aparece sem barba, são visíveis marcas no pescoço, não descritas no laudo.
Após o deferimento unânime da CEMDP, o relator Nilmário Miranda mostrou ao perito Celso Nenevê a foto do corpo de Helber e o perito fez uma observação chocante: Helber não estava morto quando aquela foto fora tirada. Havia nela o registro de um nítido rictus de dor, com vincos marcando a testa, incompatíveis com o rosto de um cadáver.
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