Nome: HAMILTON FERNANDO CUNHA
Pai: Fernando Manoel Cunha
Mãe: Filomena Maria Rosa
Idade quando desaparecido: 28 anos
O catarinense Hamilton Fernando Cunha, conhecido como “Escoteiro”, afro-descendente e operário da indústria gráfica, foi morto em 11/2/1969, por policiais do DOPS/SP, em seu local de trabalho, a Gráfica Urupês, no bairro paulistano da Mooca. Militante da VPR, Hamilton participava do cotidiano cultural e intelectual de São Paulo, atuando em grupos de teatro e, com voz de tenor, cantava em coral. A onda de prisões ocorrida logo após o AI-5 atingiu a rede de apoio da VPR, fazendo que, naquele início de fevereiro de 1969, Hamilton estivesse morando na mesma residência de outros dirigentes da organização, entre eles Carlos Lamarca, que abandonara o quartel do Exército em Quitaúna, Osasco, poucos dias antes. Preocupado com a possibilidade de ser identificado pelos órgãos de segurança,Hamilton resolveu se demitir da gráfica onde trabalhava e, ao comparecer para assinar a rescisão trabalhista, por volta de 16 horas daquela data, foi preso e morto.
Na CEMDP, o processo teve dois indeferimentos, tanto no início dos trabalhos desse colegiado, em 18/3/1996, quanto em setembro do ano seguinte, ao ser apresentado recurso relatando novos fatos. Nessa segunda ocasião, houve pedido de vistas e o processo voltou à pauta um ano depois, sendo então aprovado.
Para sustentar que a morte não ocorreu em tiroteio, conforme versão oficial, a Comissão Especial se baseou em documentos do próprio DOPS, que registravam os antecedentes da operação policial e informavam que Hamilton deixara a arma na entrada da gráfica. As demais provas foram extraídas do depoimento de um companheiro, do exame da documentação do IML e da foto de seu corpo.
O laudo necroscópico, assinado por Pérsio José Ribeiro Carneiro, descreve um único tiro e registra que o fato teria ocorrido às 16 horas, no Alto da Moóca, em São Paulo. Não descreve os grandes edemas na face e na fronte, as equimoses e ferimentos corto-contusos visíveis na foto do cadáver. Além disso, o corpo de Hamilton deu entrada no IML somente às 23h30 – sem calças – trajando apenas camisa de náilon verde, meias de lã e sapatos pretos.
Em depoimento prestado a Nilmário Miranda, membro da Comissão Especial, o militante da VPR, José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, conhecido como “Roberto Gordo”, que comparecera à gráfica junto com Hamilton, conta que aguardou na recepção por um tempo que lhe pareceu demasiado longo, já que Hamilton dissera ter acertado todos os detalhes anteriormente. De repente, ouviu o companheiro gritando que não era bandido, foi em sua direção e o viu sendo carregado por policiais. Foi José Ronaldo quem reagiu a tiros, buscando salvar o companheiro. Declarou ter disparado um único tiro, ferindo um dos policiais. Na versão oficial, ele foi responsabilizado pela morte de Hamilton,fato debatido exaustivamente durante o julgamento do caso na CEMDP. Ao aprovar o requerimento, a Comissão levou em conta adiversidade de informações e as contradições constantes nos documentos do DOPS, e desconsiderou a versão oficial, dando como provado que Hamilton estivera sob a guarda de agentes do Estado antes da morte.
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