esqueceu sua senha?

ACERVO - MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Ficha descritiva: AURORA MARIA NASCIMENTO FURTADO
 
AURORA MARIA NASCIMENTO FURTADO

Nome: AURORA MARIA NASCIMENTO FURTADO

Pai: Mauro Albuquerque Furtado

Mãe: Maria Lady Nascimento Furtado

Idade quando desaparecido:

Dôssie
...
Procedimento administrativo CEMDP
194/96
Nome
AURORA MARIA NASCIMENTO FURTADO
Data de Nascimento
17/06/1946
Municipio de Nascimento
São Paulo (SP)
Status
Morto
Biografia

 

Estudante de Psicologia na Universidade de São Paulo, com ativa militância no Movimento Estudantil, Aurora tinha sido a responsável pela imprensa da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, no final da década de 1960, período em que era conhecida como Lola, sendo namorada e companheira de José Roberto Arantes de Almeida, cuja morte já foi relatada no presente livro-relatório. Foi também funcionária do Banco do Brasil, na agência Brás, capital paulista.

Militante da DISP - Dissidência Estudantil do PCB/SP, passou à clandestinidade após ter sido editado o AI-5. Ao ser morta, militava na ALN, atuando no Rio de Janeiro, sendo a responsável pela publicação do jornal Ação e tendo participado de inúmeras ações armadas, de acordo com informações dos órgãos de segurança, inclusive o assalto à Casa de Saúde Dr. Eiras, que deixou um saldo de três vigilantes de segurança mortos e da execução do marinheiro inglês David Cuthberg. Aurora foi presa no dia 09/11/1972, em Parada de Lucas, Rio de Janeiro, depois de ter entrado em uma blitz policial realizada por uma patrulha do 2º Setor de Vigilância Norte. Tentando romper o cerco, Aurora teria matado um policial. Após correr alguns metros, foi aprisionada viva, dentro de um ônibus onde havia se refugiado, sendo conduzida imediatamente para a delegacia policial de Invernada de Olaria.


Aurora foi submetida ao pau-de-arara, sessões de choques elétricos, espancamentos, afogamentos e queimaduras. Aplicaram-lhe também a “coroa de cristo”, fita de aço que vai gradativamente sendo apertada, esmagando aos poucos o crânio. Morreu no dia seguinte. Entretanto, seu corpo crivado de balas, foi jogado na esquina das ruas Adriano com Magalhães Couto, no bairro do Méier. A versão oficial divulgada foi de que teria sido morta a tiros durante tentativa de fuga.


A Folha de S.Paulo do dia 11/11/1972 informou: “De madrugada, Aurora, que fora presa às 9h40min de 9 de novembro, conduzia agentes da polícia carioca a um local do Méier, onde estaria localizado um ‘aparelho’, na esquina das ruas Magalhães Couto e Adriano. Aurora pediu para descer, disse que por motivo de segurança queria dirigir-se a pé ao ‘aparelho’. Ao descer, Aurora saiu correndo e gritando em direção a um volkswagen que estava nas proximidades; nesse momento, começou um intenso tiroteio entre os agentes da polícia e os ocupantes do carro; ao terminar o tiroteio, Aurora, baleada, estava morrendo, caída na rua; preocupados em socorrer Aurora, os agentes deixaram o volkswagen fugir em alta velocidade”.

A nota oficial divulgou uma pequena biografia, deixando claro que os órgãos de segurança sabiam quem era ela. Entretanto, a certidão de óbito emitida registra apenas a morte de uma mulher branca, de identidade ignorada, tendo como causa mortis dilaceração cerebral. Somente mais tarde os familiares conseguiram um atestado de óbito com a identificação correta. O corpo de Aurora foi reconhecido por sua irmã, que constatou, além de hematomas e cortes profundos, o afundamento do crânio. As fotos de perícia de local, encontradas nos arquivos do Instituto Carlos Éboli (ICE/RJ), mostram claramente as marcas de tortura no corpo de Aurora, onde ficam nítidos o afundamento do crânio; escoriações e cortes profundos nos braços e pernas; o rosto deformado por espancamentos e pela ‘coroa de cristo’; hematomas nos olhos, nariz e boca. Próximo ao corpo, uma foto mostra um Volkswagen crivado de balas, completando a encenação do teatro montado para justificar a versão oficial sobre a morte.


O laudo do IML, firmado por Elias Freitas e Salim Raphael Balassiano, omite o nome de Aurora, mas confirma a versão da morte em tiroteio. Descreve 29 perfurações por projétil de arma de fogo, não especificando entretanto as entradas e saídas dos tiros. Foram encontrados oito projéteis em seu corpo, deflagrados a curta distância. O tórax e abdômen são transfixados por projéteis, mas o laudo registra que “as cavidades plurais não contêm sangue; a cavidade abdominal não contém sangue; na região glútea direita há três orifícios sem reação vital” — prova de que esses tiros foram dados quando Aurora já estava morta, apenas para confirmar o tiroteio que não ocorreu e que é paradoxalmente assumido como verdadeiro pelos legistas. As lesões no crânio são descritas como feridas irregulares de 60 e 36 milímetros de extensão, localizadas nos parietais esquerdo. Essas medidas não são de projéteis – confirmando o uso do instrumento ‘coroa de cristo’.


A morte de Aurora sob tortura foi confirmada pelo depoimento do general de brigada na reserva e ex-comandante do DOI-CODI Adyr Fiúza de Castro no livro Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão, organizado por Maria Celina D’Araujo, Gláucio Ary Dillon Soares e Celso Castro. O depoimento do general mostra que ele sabia das torturas praticadas no quartel; fala da violência dessas torturas e assume que, sendo impossível interrogar Aurora, nem pensou em enviá-la para um hospital, sendo melhor deixá-la morrer onde estava. Permitiu ainda o general sabedor dos fatos, que a versão dos órgãos de segurança para a morte de Aurora fosse um fantasioso tiroteio no Méier, apesar do engano ao referir-se ao “fusca” que, segundo ele e a versão oficial teria fugido, mas que aparece nas fotos de perícia. O general relata as circunstâncias da prisão de Aurora, “tal como lhe foi contado”. Ao ser interpelada por uma viatura dos agentes da Invernada de Olaria, Aurora reagira à prisão, matando um agente e ferindo outro. “Um agente conseguiu segurá-la pelas pernas e debaixo de muito pau a pegaram e meteram na viatura”. Diz ainda o general Fiuza: “Foi para a Invernada de Olaria. E eles não estavam satisfeitos com um dos seus companheiros morto, com o rosto completamente estraçalhado. Calculo o que fizeram com ela”.


Afirma que estava no CODI, no I Exército, quando recebeu telefonema sobre a captura de uma moça, que seria do interesse do CODI. Diz o livro, às fls. 76/77: “Eu mandei um oficial meu ir lá para identificá-la. Ela estava em péssimo estado, não vai resistir nem uma ou duas horas mais. — O senhor quer que eu a traga? Não, não traga coisa nenhuma. Quem é ela? Ele disse o nome: Aurora Maria Nascimento Furtado. Um livro que um desses camaradas escreveu diz que, na Invernada, ela foi submetida à ‘coroa de cristo’, um negócio que aperta a cabeça. Isso não me foi dito nem pelo comandante do DOI, nem pelo oficial que foi à Invernada de Olaria. Mas se eles fizeram isso, fizeram crentes que estavam lidando com uma traficante fria, que matou um dos seus friamente. Acho que essa moça era muito valente, mas não deu entrada em DOI, não ‘abriu’ coisa alguma. Os documentos que estavam com ela fizeram com que o pessoal da Invernada acabasse desconfiando que ela não era traficante e que estava simplesmente cobrindo um ‘ponto’. Morreu no mesmo dia (...)”.


Em 11/11/1972, o corpo foi trasladado para São Paulo, sendo entregue à família em caixão lacrado, com ordens expressas para que não fosse aberto. A história de sua militância política e de seu suplício está narrada, de modo romanceado, no livro Em Câmara Lenta, escrito pelo cineasta e ex-preso político Renato Tapajós, que era então cunhado de Aurora. O relator do processo na CEMDP, general Osvaldo Pereira Gomes, apoiou-se em alguns trechos do depoimento do general Fiúza em seu voto, concluindo não restar dúvidas de que Aurora morreu por causas não naturais em dependência policial, sendo falsa a versão oficial.

Local de morte/desaparecimento

 Rio de Janeiro - RJ

Organização política ou atividade
ALN
Data do Recolhimento da documentação física para o Arquivo Nacional
06/08/2009
Notação Arquivo Nacional
...
Data do julgamento
02/04/1996
Resultado do julgamento
Deferido
Data da publicação no DOU
11/04/1996
voltar
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Setor Comercial Sul - B, Quadra 9, Lote C, Edificio Parque Cidade Corporate, Torre "A", 10º andar, Brasília, Distrito Federal, Brasil CEP: 70308-200c

Atualize o Flash Player